Não assisti ao filme da Barbie. Não ainda, pelo menos. Quando o longa foi anunciado, confesso que pensei que a empreitada iria resultar em um pastelão duvidoso que acabaria virando reprise sazonal na Sessão da Tarde. Ao descobrir que o roteiro não traria a versão live action das histórias infantis já retratadas em desenho, acendeu em mim uma curiosidade que deve ser a mesma de tantos espectadores que lotaram as sessões de cinema no último final de semana. Com corredores de shopping abarrotados de pessoas vestindo cor de rosa, o novo fenômeno da cultura pop trouxe a já conhecida Barbie para as telonas, como também um amontoado de variantes. Dentre elas, a Barbie Infeliz.
Se no filme a Barbie principal (porque existem várias) enfrenta uma crise existencial que permeia por assuntos como o patriarcado e a democratização e disrupção de um padrão postergado por décadas, do lado de fora do cinema o que restou foram as Barbies Infelizes e de olhos arregalados. Em um rápido passeio no shopping, reparei em 15 pessoas que viraram o pescoço para checar novamente as roupas rosa e purpurinadas dos espectadores mais animados. Depois disso, parei de contar.
Engraçado pensar o quanto ainda nos chocamos com o outro – principalmente em 2023, quando já deveríamos estar habituados com aquilo que foge do que decidimos estabelecer como padrão. E nem estou me referindo às minorias, já que por consecutivas vezes o cenário foi outro: no lugar da Barbie, homens jovens majoritariamente heterossexuais disputaram (incluindo brigas físicas) um ingresso para assistir a saga dos super-heróis do Universo Marvel no cinema. Naquelas ocasiões, por muitas vezes a Barbie Infeliz fui eu. Torci o nariz ao ver muita gente fantasiada, gastando dinheiro demais em um balde de pipoca temático, sem entender direito qual era a magia por trás de toda a coisa, até me dar conta de que eu estava me incomodando de graça. Se o outro está feliz, porque eu estou me doendo por isso?
Hoje eu acho essas agitações sociais um máximo. Principalmente neste período pós-pandemia, observar uma concentração enorme de pessoas existindo lado a lado, vibrando em cores e vestimentas por um mesmo motivo é algo que alivia. Mas parece haver uma necessidade intrínseca do ser humano em transformar até mesmo um programa leve de fim de semana em uma disputa pelo certo e errado, pelo comum e extremista, pelo normal e pelo bizarro.
Que nem todos vão gostar do motivo para tamanha excitação é óbvio, e tá tudo bem. Isso não significa (ou não deveria significar) que posso – ou preciso – falar mal, criticar, olhar torto. Não consumir o que não foi feito para mim já é o suficiente para permitir que o outro seja feliz com aquilo que o faz bem. Entender que nem sempre vamos querer surfar na onda do momento é ótimo para relembrarmos que o mundo não existe só para nós. Há o outro, sempre há. E que ótimo que há.
Até porque, se existisse uma única Barbie, a Barbielândia seria um porre.