Quando eu era criança, meus pais contavam histórias sobre os seus trabalhos. A ideia de passar muito tempo dentro de uma mesma empresa soava comum, algo sem muita escapatória. Anos mais tarde, já atuando como estagiário, era corriqueiro ver alguns colegas ganhando troféus por estarem trabalhando há 15, 20, 30 anos no mesmo lugar. De lá pra cá, claramente muito mudou. A geração atual (bem como suas subsequentes) se comporta mais como pipoca, onde ficar estagnado não é uma opção. Quem sabe seja por isso mesmo que eu, no auge da minha primeira década de carreira, já esteja com vontade de jogar tudo para o alto.
Nossas vontades sempre vêm motivadas por uma variante – quando não inúmeras. No meu caso, sempre fui curioso o bastante para querer explorar o mundo e me interessar por realidades e profissões tão antagonistas da minha. A ideia de fazer o mesmo todos os dias sempre me assustou, por mais que esse mesmo seja algo que me encanta. É como a velha metáfora do hamster correndo dentro da roda: o caminho é sempre o mesmo, mas por estar inserido naquele contexto, não sobra tempo nem para perceber que ele só dá voltas e voltas sem sair do lugar. É uma busca sem algo a ser encontrado – não algo novo e diferente, pelo menos.
Eis que, mais inesperado que um cachorro que nasce miando, entrei em crise. E nem falo do lado financeiro, porque falar de estabilidade monetária atualmente é um luxo para poucos. De umas semanas pra cá, tenho me segurado quase que diariamente para não jogar a toalha. Na mente, os pensamentos lutam com agressividade: e se eu não estiver agradando mais? Eu ainda sei qual é o meu público? O que eu sou e o que eu faço após uma pandemia que durou anos e custou pessoas? Ainda faz sentido continuar fazendo o que sempre fiz? E se eu já tiver feito tudo que podia? Será que o ciclo não está chegando ao fim?
Antes de fechar a conta e apagar as luzes, preferi respirar. Sabe, é característica de mente acelerada sair decidindo o futuro quando o presente nos pressiona e nos exige e nos sufoca. Nem tudo é ruim e nem tudo está perdido, então qualquer ideia extremista precisa ficar longe do protagonismo para que assim não tome conta de tudo. Ser escritor, artista, viver de cultura, tudo isso que é cada vez mais raro, sempre foi (e talvez sempre será) um desafio. É quase tão louvável quanto decidir ser professor: se você não nasce para viver isso, raro é aquilo que irá te incentivar para tal papel. Se ninguém nasce para viver isso, o mundo inteiro não evolui, tampouco sobrevive.
O ponto que queria chegar é este mesmo. Escritores e professores estão em extinção, e tais crises se manifestam para acrescentar um pouco mais de intensidade aos questionamentos corriqueiros: ainda faz sentido? Até quando? Seja o que for, independente da escuridão que deixaremos tomar conta do mundo, peço por favor: o último que sair apague as luzes.