Odeio o clima de hospital. Peça para eu pular de bungee jump, mas não me peça para ficar muito tempo naqueles corredores ocupados por médicos, pacientes, familiares e tantas histórias de um acaso triste. Essa minha característica sempre existiu, porém recentemente ganhou ainda mais validez após uma analogia pipocar em minha mente: mesmo longe das paredes brancas de qualquer que seja o hospital, estamos quase sempre lidando com pessoas pronto-socorro.
Já procurei pelo meu corpo o lugar onde estaria instalado esse tal imã que atrai de forma tão poderosa pessoas assim. De repente, em uma quarta-feira qualquer, alguém aparece sem nenhum tipo de aviso prévio e despeja sobre você um problema que está latente. Os primeiros socorros são básicos, todo mundo sabe como agir. E é então que nós acolhemos, escutamos, abrimos um espaço que nem sempre temos disponível porque negar qualquer tipo de atendimento seria considerado omissão.
Assim como em um pronto-socorro, há quem chegue sem nunca ter dado as caras antes. São pessoas sazonais, daquelas que só aparecem quando um problemão caiu em suas mãos e somos a primeira escolha no momento de desespero. Após oferecer acolhimento, entregamos os nossos melhores conselhos e, por vezes, até nos colocamos à disposição de uma forma que nem mesmo sabemos se estamos preparados. Tal qual um médico que passa o seu número pessoal para qualquer emergência, ativamos o estado de vigilância porque nos preocupamos; porque queremos o melhor para o outro.
Prestado o devido atendimento, a sensação só não é de dever totalmente cumprido porque precisamos aguardar. Há uma melhora por vir, diferente do “paciente” que talvez não retorne tão cedo. Poderia enumerar diversos casos aqui, onde essas “pessoas pronto-socorro” procuraram por ajuda imediata e depois nunca mais deram as caras. Até hoje sigo me questionando se elas encontraram uma solução para os seus problemas e se tudo foi resolvido. Entretanto, nada feito. E é por isso que as chamo de pronto-socorro: você só está lá para prestar os primeiros socorros. Medicadas e com um curativo na ferida, elas só retornarão quando um novo problema aparecer.
Acredito que aqui reside mais um motivo para admirar tanto quem decide seguir o caminho da Medicina: você faz o seu melhor e confia em uma melhora que não depende exclusivamente de você. São diversos fatores, visto que cada um reage de uma forma diferente e que nem todos os pacientes se dedicam como deveriam. A única certeza é que os médicos continuam ali, preparados para acolher novamente em uma emergência futura. Se o problema anterior foi resolvido ou não, tão pouco importa ao paciente relatar. Mas que seria uma boa prestação de contas – e uma forma de não deixar tão explícito que você só é procurado nos momentos ruins –, disso não há dúvidas.