135 milhões de reais. Esse foi o gasto da CBF para manter a Seleção Brasileira durante o último ano, entre deslocamentos e salários. Em ano de Copa do Mundo, o valor alto se paga principalmente por cotas de patrocínio, uma vez que a premiação de quase 97 milhões de reais herdada pela eliminação nas quartas de final não cobre o investimento. E mesmo diante de cifras tão expressivas, faltou verba para um detalhe importante: o Brasil foi a única seleção sem um psicólogo na delegação.
Faltou? Talvez o termo não seja este. Ao repetir a estratégia adotada em 2018 na Rússia, o técnico Tite escancarou uma falha que pode ter sido sim um dos fatores responsáveis pela derrota deste ano.
Mesmo com os dados da Organização Mundial da Saúde de que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, a psicologia do esporte foi jogada para escanteio. Em um país que vive uma pandemia de saúde mental, ter na equipe um profissional que trabalhe a inteligência emocional de cada atleta não deveria nem ser uma opção. O resultado do descaso foi assistido por milhões de espectadores ao redor do mundo: sentados no meio do campo, uma vitrine de jovens jogadores desolados, incrédulos e imóveis. Até mesmo o choro levou tempo para aparecer porque a derrota foi digerida lentamente – ou melhor, ainda está sendo.
É claro que o espaço para a tristeza deve existir. Sem hipocrisia, jogamos para ganhar. O trabalho é árduo, sim, mas o fato de que a chance de vitória era pouco maior que 3% deveria prevalecer. Mesmo com cinco estrelas no peito, ainda assim é matemática: são 32 times e só um vai levantar a taça. Porém, em um mundo exaustivamente competitivo, como é que se aprende que não ganhar sempre não é a mesma coisa que perder?
Vale lembrar que, mesmo amparadas por cuidados psicológicos, as outras seis campeãs mundiais que disputavam esta edição da Copa do Mundo também foram eliminadas. Ou seja, essa é só mais uma prova de que não existe vitória garantida. Nem mesmo os mais preparados escapam do risco de falhar, já que podem existir 500 treinos e ainda assim o erro só aparecer na partida oficial. Qualquer criança diria aquilo que recém aprendeu e que nós, já adultos, esquecemos (ou preferimos não concordar): “o importante é competir”.
Em termos futebolísticos, faltou fair-play. Na expressão popular, faltou pé no chão. Se o jogo só acaba quando termina, dar-se por vencido é uma manobra arriscada, mesmo que só restem 120 segundos para o apito final. É a velha ideia de que quem sabe perder saberá vencer, e a julgar pelo silêncio de cada jogador nos dias seguintes, ainda precisamos trabalhar muito sobre os lutos que teremos de enfrentar. Se houvesse cuidado mental, a tristeza ainda existiria. Entretanto, no mínimo seria vivida lado a lado, mão a mão — um time ainda é um time mesmo depois que a derrota é declarada. Faz parte.
Na Copa de 2022, perdemos antes mesmo de perder. A meu ver, por mais pontual que o avião tenha pousado no país-sede, já chegamos atrasados. Mais do que nunca, o preparo vai além da boa resistência e de um tornozelo intacto, já que a saúde em si é um estado completo de bem-estar físico, social e mental. Nós não deixamos de estar doentes só porque não temos alguma enfermidade. E como diz a música, “tudo aquilo que perdemos é um passo que damos”, mas isso também depende. Estamos preparados para seguir em frente sem reconhecer que as perdas são inevitáveis? Ou melhor, que elas são escadas sensacionais para entendermos que se existirem novas perdas será porque continuamos tentando?