A chegada de novembro me faz lembrar da infância, quando eu atormentava meus pais para, tão cedo, enfeitar a casa com a decoração de Natal. Houve uma tarde de sábado em específico que dediquei horas a fio para transformar a nossa sala em uma espécie de Carnaval fora de época misturado a uma loja de R$1,99 que escorre artigos natalinos pelas paredes e fica praticamente intransitável. É claro que os meus pais elogiaram o meu trabalho (faz parte da paternidade), mas tenho certeza que eles devem ter se preocupado com os biscoitos e copo de leite que deixei para o Papai Noel com uns 50 dias de antecedência.
Relembrei essa fase porque tenho adiado a montagem da árvore de Natal aqui de casa neste ano – nos últimos anos, aliás. Não sei ao certo se a culpa, por assim dizer, deve ser atribuída à vida adulta ou ao tempo corrido. Pensando bem, ambas as justificativas acabam sendo quase sinônimos. Acontece que, com tanto a ser feito no dia a dia, a ideia de desencaixotar todos aqueles galhos que se desfazem aos poucos ano após ano para tentar fazê-los ficar em pé soa como algo a mais para se resolver. E não, não existiu música de Natal capaz de me empolgar para tal ato.
Inesperadamente, o cenário mudou dias atrás. Estava saindo do mercado quando encontrei um pedaço de papel preso ao carro. Já do lado de dentro, descobri se tratar de uma cartinha para o Papai Noel. A letra era tremida, como quem ainda está aprendendo a escrever. Nas poucas linhas, o pedido de uma muda de roupas e um tênis para passar o Natal, já que a mãe não teria condições. De peito contorcido e instantaneamente tocado pela sinceridade e inocência (que infelizmente perdemos ao crescer), cheguei ao fim da carta escrita pelo irmão mais velho daquela criança de três anos.
No dia seguinte, montei a árvore de Natal aqui de casa. O processo foi vivido com uma sensação de nostalgia que há muito não me encontrava. Dentro da caixa de enfeites encontrei uma touca de Papai Noel e provavelmente vou usá-la quando entregar os presentes para o menino. Vestido de ajudante do bom velhinho, vou dizer a ele o mesmo que nós, adultos, vivemos dizendo: Papai Noel está correndo muito, e por isso mesmo me mandou aqui.
Em tempos assim, torço que a compaixão possa ser a salvação para um país tão dividido, trazendo esperança para aqueles que já a perderam há muito tempo. Bem antes das guerras políticas, das desavenças por conta de futebol ou dos desentendimentos religiosos. E que assim, com sorte, todos acreditem pelo maior tempo possível: Papai Noel existe sim.
Feliz Natal.