É fácil perceber quando um filme vai decepcionar a maioria. A sala de cinema já não se encontra mais em absoluto silêncio, uma vez que alguns comentários surgem baixinho misturados aos corpos inquietos nas poltronas. A reação imediata traduz um pensamento óbvio, algo do tipo “não acredito que vai terminar assim”. Passados alguns segundos, a previsão se confirma: os créditos tomam conta da tela e são seguidos por risos curtos que, agora, significam deboche e dinheiro perdido. A pura verdade por trás disso tudo é que nunca estamos preparados para os finais infelizes.
Cresci assistindo filmes e lendo livros que convergiam no retorno do protagonista com o elixir. Esta é a 12ª etapa da jornada do herói, uma análise do pesquisador Joseph Campbell que sintetiza os ingredientes mais importantes para a composição de uma história. O tal herói, após recusar o chamado para a aventura que acaba de receber, entende que só depende dele para resolver determinado problema e retornar no fim com o seu objetivo cumprido. É a premissa básica da maioria das histórias que vemos por aí, independente da plataforma. Resumindo e simplificando, há um “felizes para sempre” em cada final pois este é o reconhecimento devido ao protagonista após uma longa jornada.
E foi exatamente nisso que acreditei durante o meu crescimento. É isso que todos nós buscamos. Porém, exercendo uma reflexão racional (para não chamar de pessimista), será que sempre alcançaremos tal consagração?
É claro que não. Aprendemos a lidar por conta e lágrimas próprias com um coração quebrado na vida real depois de tantas histórias que nos fizeram acreditar em príncipes e cavalos e amores eternos. E, veja bem, não estou dizendo que não existam. O fato é que só não estamos acostumados, quem sabe justamente pela ideia de que o entretenimento sirva para nos distanciar da realidade por vezes amarga que vivemos. Algo como uma mensagem implícita que nos encoraje: vá em frente, eventualmente vai dar certo sim.
Entretanto, isso não diminui a importância dos finais infelizes. Precisamos deles.
Esta reflexão surgiu após uma sala de cinema frustrada com o desfecho de um filme de terror. E aqui reside a maior prova de que nos acostumamos ao longo dos anos com a sensação de sair de uma sessão confortáveis após um final redondinho. A verdade é que nem sempre os encontraremos por aí, e quem sabe estivéssemos mais preparados se os espelhos que são as telas nos relembrassem vez que outra: não deu certo. A protagonista sofreu e no fim ainda morre. Ao mesmo tempo, se repararmos bem, seja no terror ou nos contos de fada, há sempre margem para uma sequência. E nelas, sim, mora a esperança de continuarmos perseguindo a felicidade.