Estou sempre procurando alguma explicação para tudo aquilo que acontece ao meu redor. Seja um poste da rua que acaba de explodir ou a caixinha de leite estragada que comprei (dentre tantas outras boas), acredito que alguma ciência, pseudociência, teoria da conspiração ou seja lá o que for possa explicar. Seguindo esse pensamento, recentemente questionei uma adolescente que, durante uma palestra, contou que queria fazer a tatuagem de um boi. Foi instintivo: “um boi?! Por que?!”. A sua resposta, no entanto, serviu como um contragolpe: “Por que não?”.
Nunca me imaginei com um boi tatuado na pele, porém já achei chato (e continuo achando) ter que explicar o significado das minhas tatuagens quando perguntam. A maioria delas tem sim uma história escondida por trás, o que justificou a agulha perfurando o corpo e o rabiscando com tinta. Mas a grande questão é que, eventualmente, alguma nova tatuagem talvez virá pelo simples fato de que eu achei a ilustração bonita. Melhor ainda: porque eu quis. Sendo assim, por que não?
Talvez a resposta esteja na nossa crença de que precisamos nos justificar a todo tempo. Somos adolescentes justificando escolhas até nos tornarmos adultos justificando ações. Sejam erros ou acertos, a justificativa aparece porque acreditamos que ela traz segurança. Como sempre digo, essa é só mais uma prova de que buscamos arduamente por aprovação social.
Mark Leary, professor da Duke University, conduziu uma pesquisa que demonstra que mesmo pessoas que dizem não se importar com a opinião alheia tendem a alterar o próprio comportamento quando confrontadas com uma avaliação ruim. Inconscientemente, existe uma procura pela unanimidade – uma espécie de multiverso utópico onde todos aplaudem nossas decisões sem contestação alguma.
Sorte a minha ter cruzado o caminho daquela garota que me fez desbancar a sentença de que “’porque não’ não é resposta”. Com o acréscimo de um ponto de interrogação ao fim, o convite para pensar o inimaginado vem de uma juventude que cada vez mais parece ter menos medo do improvável. Pois de fato: a autenticidade se esconde nos momentos em que paramos de nos justificar. E o que poderia ser mais autêntico do que um boi tatuado na pele?