Fiquei sete meses sem cortar o cabelo. Não foi promessa nem nada, a ideia foi só poder me olhar no espelho e enxergar alguém diferente mesmo. Alguém que eu nunca tinha visto, justamente por nunca ter deixado o meu cabelo crescer tanto (a autopermissão é um processo lento, né?). A experiência foi interessante até o minuto que resolvi mudar de novo — e digo isso não só pelo meu próprio reflexo, mas também a partir da reação que recebi dos outros.
Em todos esses meses, escutei o incentivo de apenas dois amigos para que deixasse o cabelo crescer. De resto, foi só uma chuva de questionamentos que tentavam encontrar alguma resposta válida para justificar algo que, para mim, sempre foi tão trivial. Cheguei a trombar até com quem me perguntasse porque não cortava, já que “o cabelo de antes” me deixava muito mais bonito.
Foi inevitável o flashback que me envolveu na hora. Lembrei de quando raspei o cabelo bem baixinho de um dia para o outro; de quando pintei de verde, azul e depois rosa; de quando decidi que queria me ver grisalho; de quando descolori e logo tive que pintar de novo; de quando fiz luzes; e até mesmo de quando pintei de preto e o meu corte de cabelo fazia parecer que eu estava de capacete. Absolutamente todos valeram a pena.
O sentimento foi de que gente com medo de mudança me dá alergia. As mil versões de mim têm urgência para existir — e talvez mudar o cabelo seja só um reflexo. Desde pequeno eu sento na cadeira do cabeleireiro e o deixo livre para fazer o que quiser, porque sei que essa é mais uma forma de me redescobrir constantemente. Não ficou legal? Cabelo cresce. A cor não combinou? A gente pinta de novo. Os outros estão olhando? Bom, talvez seja a vontade de fazer o mesmo, mas que está presa e tem medo de vir pra fora.
Gosto de viver caminhos desde que eles sejam itinerantes. O ponto de chegada nem sempre precisa ser óbvio porque a nossa vontade pode mudar durante o trajeto. Então, na dúvida de continuar sendo sempre o mesmo e nunca descobrir outras camadas que também vivem em mim, prefiro ser alguém diferente a cada minuto. Essa semana vi uma frase pintada em um muro que resume tudo isso muito bem: “se você tentou e falhou, parabéns! Tem gente que nem tenta.”