Guardo comigo o mesmo costume há anos. Sempre que saio de uma sala de cinema, procuro na internet as críticas dos especialistas para descobrir o que eles acharam de cada filme. É claro que a expectativa é de que partilhemos da mesma opinião, porém isso dificilmente acontece. Falando a verdade, é quase sempre o oposto: saio encantado com o longa que, paralelamente, é massacrado pela crítica. Existe alguém errado nessa história?
Fiz uma experiência essa semana. Fui ao cinema e escolhi o filme com menos sessões, naquele horário que ninguém costuma frequentar. Pelo cartaz, “A Jaula” soava como um terror pouco convincente, e nem os nomes de Alexandre Nero e Chay Suede animaram. Entrei na sala de cinema sem nem ler a sinopse — foi um encontro às cegas, digamos assim. Depois de 90 minutos, saí com a certeza de que não seria possível encontrar críticas medianas ou qualquer resenha que falasse mal. A falta de espera pelo inesperado foi o ingrediente fundamental para ser surpreendido positivamente.
O êxtase teve fim quando encontrei um crítico de cinema resumindo o longa em poucos parágrafos e com a mesma profundidade de uma poça d’água. Não havia comentários sobre as escolhas da direção, a trilha sonora (que particularmente achei impecável), a aposta por uma crítica social em um filme de suspense relativamente inovador — principalmente no mercado audiovisual brasileiro, sempre recheado de comédias.
A diferença das outras vezes para esta foi a de que percebi que estamos inevitavelmente procurando por algum tipo de validação. Constantemente. Quando não é sobre nós mesmos e a forma como nos expomos em uma rede social, é naquilo que consumimos. Queremos gostar do que é apreciado, daquilo que é tido como belo, e somos encorajados quando o outro sabe mais do que nós, justamente por ter a alcunha de especialista. Posso citar vários exemplos de filmes que perderam seu brilho depois que li sua crítica na internet, e concordei porque meu olhar amador jamais repararia em tantos detalhes.
Faz um dia que estou pensando sobre o consenso das coisas. Assim como em um concurso, onde determinada banca de jurados figura como responsável pela escolha final, uma crítica de cinema — mesmo que bem fundamentada — não deixa de ser gosto pessoal. O consenso de uma pessoa só. E já sabemos que concordar com tudo é tarefa impossível.
De qualquer forma, vou continuar lendo as críticas dos filmes que assisto porque o contraponto é sempre bem-vindo. Só que a partir de agora eu prefiro manter em mente de que o belo é relativo, e que gostar de filmes com uma só estrela talvez me faça sentir mais ainda a graça da empreitada.