Eu tinha uns 10 ou 11 anos quando a brincadeira do momento lá na escola era um jogo onde a primeira pergunta a se responder era “com quantos anos você quer casar?”. Assim, de cara. Lembro que sempre respondia 28 porque me parecia uma idade adequada, já que foi por aí que a minha mãe ficou grávida. O resto da brincadeira era sobre quantos filhos você poderia ter, qual lugar você moraria, qual carro dos sonhos teria na garagem e, claro, com quem você dividiria tudo isso. A sorte dos números era a responsável por imaginar um futuro que, ao menos para mim, ainda não se concretizou.
Acho que quebrei a cara quando minha tia ficou grávida depois dos 40 e então o meu referencial caiu por terra. Com o passar dos anos, todas as pessoas que eu já tinha citado na brincadeira não estavam mais na minha vida, e a maioria dos lugares que já quis morar eu não fiz nem cotação para uma rápida viagem de férias. Na adolescência, entendi que todos aqueles planos eram fajutos e o caminhar seria diferente – isso porque não só eu mudava, mas tudo aquilo que me cercava também.
De todas as opções possíveis naquele jogo, uma em específico ainda consegue me incomodar. Por mais que o casamento tradicional não seja uma expectativa minha, todas as vezes que olho para os meus pais eu ainda penso sobre o amor e as chances dele acontecer. Filho de um casal que está junto há quase 40 anos, tento entender se atualmente isso ainda é possível. E por mais que todos os reflexos de uma nova configuração de sociedade (o troca-troca de emprego entre os mais jovens, por exemplo) talvez sirvam de prova para a impossibilidade das relações eternas, eu ainda acredito no amor.
Estranho, né? Dizer conscientemente que acreditamos no amor nunca foi tão pesado e difícil. Poucos são os casais que conheço que permanecem juntos há tanto tempo. E, sim, as famosas máximas do “eterno enquanto dure” ou “durou o quanto tinha que durar” fazem sentido, mas é inegável que as relações seguem o mesmo molde de todas aquelas coisas que são criadas/produzidas/formadas atualmente: com prazo de validade cada vez mais enxuto, tudo parece ser descartável.
Não quero pular em pessoas e relacionamentos rasos. Ficar na superfície boiando me soa tedioso e bastante preguiçoso. Como minha mãe me disse uma vez, “o amor é como mergulhar no mar e chegar cada vez mais fundo”. Nunca sabemos o que vamos encontrar, e até mesmo com medo a gente avança. Até porque, sempre existem os perigos, assim como também existem as maravilhas à disposição de quem vai cada vez mais longe.