Este é o terceiro texto que começo a escrever e não posso garantir para mim mesmo de que vou conseguir chegar ao fim. Quem é mais próximo sabe que eu sempre tenho algo a dizer, seja uma teoria maluca sobre qualquer detalhe do mundo, seja uma piada sem graça para contar quando menos se espera. Porém hoje, por mais que eu tenha diversos tópicos rabiscados no bloco de notas para fazer uso quando as ideias são escassas, nenhum deles se encaixa. E se tem alguma coisa que a escrita me ensinou foi a de que ela deve ser sincera.
Talvez eu frustre um pouco da sua adolescência, ou até dos seus momentos de entretenimento diário ao ler um ótimo livro de ficção, mas lá vai: boa parte deles é feita de histórias reais. Por mais que o escritor seja um ótimo inventor, não derramar um pouco de si é simplesmente inevitável – há sempre uma verdade (ou várias) escondida em um personagem ou naquele parágrafo mais mirabolante. Nas entrelinhas, dizemos aquilo que gostaríamos de escancarar para o mundo. Escondemos as nossas confissões e emprestamos os nossos próprios medos a um personagem.
Até o melhor mentiroso vai concordar: a sinceridade é uma urgência. Guardar para si pode até ser um mérito dos mais reservados, mas todos compartilhamos da mesma vontade de dividir com o outro seja o que for. E fazemos isso de forma admirável, já que o ser humano é, por si só, um sujeito emocionado. Pode reparar: você consegue perceber a euforia no olhar, nos gestos e no tom de voz quando alguém divide uma conquista ou um segredo. E até mesmo os mais tímidos entendem a necessidade de se comunicar, mesmo que a escolha não seja por meio das palavras. Mas a pergunta que tenho me feito desde que nenhum dos meus textos anteriores rendeu (ou pelo menos chegou ao fim) foi uma só: e quando a gente não tem nada a dizer?
Por aqui, atualmente a sensação é de um vazio. E antes que eu abra brecha para qualquer interpretação errada, é bom deixar claro que nem todo vazio é triste. É claro que dentro de um vazio cabem diversas coisas, afinal, trata-se de um espaço completamente desabitado, tal qual uma casa sem mobília. Mas se pensarmos bem, uma casa vazia nada mais é do que o sinônimo de recomeço: é preciso esvaziar-se daquilo que já foi e abrir espaço para o que está por vir.
Falo de mudança, mas também falo dos intervalos que precisamos entender como necessários. Já que somos um turbilhão constante, envolto por objetivos e metas e sonhos e planos e propósitos e destinos e expectativas, que também saibamos ser quietude. Creio que seja mais uma forma de autorrespeito, sabe? É preciso não só reconhecê-la como fundamental para o progresso, como também não temê-la.
Há que se abrir espaço para novas existências, assim como devemos aproveitar o silêncio dos dias de calmaria. Neles, reside uma verdade ímpar: quando não há nada a se dizer, é porque já dissemos tudo aquilo que gostaríamos de ter dito – ao menos, até aqui. E daqui pra frente, o que resta a fazer é nos escutar. Por exemplo, foi com esse silêncio todo que eu consegui terminar esse texto aqui.