Quando eu tinha 16 anos, a minha nota de Redação mais alta no cursinho pré-vestibular foi em uma dissertação que abordava o medo. Lembro de ter discutido sobre o tanto de traumas e impedimentos que carregamos e nem deveríamos, além de pontuar que a coragem é o combustível responsável por nos manter vivos. Hoje, mais de 10 anos depois, é no mínimo curioso reparar que penso exatamente o contrário: eu tenho certeza de que aquilo que nos faz permanecer vivos é justamente o medo.
Por mais que eu não tenha aproveitado ao máximo a adolescência, hoje eu posso dizer que não faço ideia de como me permiti tudo aquilo que fiz quando ainda não tinha completado nem duas décadas. A busca incansável pelo primeiro amor correspondido, as primeiras mentiras contadas para os pais, os primeiros erros que a gente se machuca até hoje... Enfim, tudo foi vivido com um grau de medo muito baixo. Acho que a pouca idade é mesmo responsável por nos fazer pensar que podemos tudo e que nascemos munidos de uma coragem muito maior do que aqueles que nos ladeiam. Vela a vela acrescida no bolo de aniversário, no entanto, sentimos a descoberta dos nossos limites e os remendos de cada frustração.
A primeira vez que essa reflexão surgiu foi quando assisti ao primeiro filme da trilogia Minha mãe é uma peça, do eterno Paulo Gustavo. Quando o sobrinho de dona Hermínia sofre um acidente, o longa pausa para levantar esta ideia de que quando somos jovens nós pensamos ser à prova de bala. Vivemos com a sensação de que absolutamente nada pode acontecer de fato com a gente – é sempre com o outro, até que aconteça com nós mesmos. “Eles (os adolescentes) acham que são imortais”, diz a personagem principal.
Prefiro pensar que com o passar do tempo nos tornamos mais medrosos. A neurociência explica que, sim, o envelhecimento de uma parte específica do cérebro faz com que assumir grandes riscos seja um processo cada vez mais raro – até porque, a esta altura nós já aprendemos que as consequências podem ser bem dolorosas.
E assim seguimos, então, contidos até onde aguentamos. Porque em algum momento acabamos explodindo (e sim, isso é só uma percepção minha). A certa altura, escutamos o tique-taque do universo e torna-se inevitável: voltamos a ser “adolescentes” por um tempo que seja. Assumimos riscos, chutamos o balde, quebramos as regras, pulamos daquele bungee jump que até então jurávamos jamais pular, rompemos contratos, mudamos de carreira, terminamos um casamento porque a gente sente que, sim, os limites são necessários e a vida acaba pendendo quase sempre para o lado racional, mas que ainda assim nada pode nos restringir.
E então nos vemos corajosos, mesmo que momentaneamente. Continuamos com a certeza de que aquilo que nos move é o medo, já que ele insiste em nos desafiar, mas nos permitimos a intensidade da vida porque, no fim da história, os adolescentes até que não estavam tão errados: não somos imortais, mas podemos tudo e carregamos uma coragem absurda e necessária – e escondê-la só nos petrifica.