Passei o último dia dos namorados solteiro. Até aí, nenhuma novidade. A diferença para os outros anos foi o sentimento que percebi carregar comigo de uns dias pra cá, e por mais que tentasse evitá-lo ou chamá-lo de algum outro nome, eu sabia exatamente do que se tratava. Mesmo que a gente negue (quase sempre por medo), é impossível ignorar quando a gente sente que está apaixonado.
No último ano, dediquei boa parte do meu tempo para estudar sobre o amor. Esse assunto sempre me cativou porque eu nasci curioso, é algo genético (obrigado, pai). O que é que acontece dentro da gente quando estamos apaixonados? Racionalmente falando, o que é o amor? A gente realmente precisa de alguém para dividir a vida? Aliás, quando é que a gente sabe que pode chamar de amor?! Enfim, todas essas perguntas — e mais umas 4.139 (aproximadamente) — aguardavam o momento em que pudessem ser respondidas. Não posso dizer que cheguei a respondê-las por completo, mas muito do que estudei me fez entender mais sobre o amor.
Entretanto, o que eu mais aprendi foi que, quanto mais eu estudava sobre o amor, menos eu entendia sobre ele.
Digo isso porque não existe resposta certa ou teórico capaz de responder. Nem o dicionário sabe definir em poucas palavras o que essa única palavra significa. Tem algumas coisas que a gente só sente e que todo escritor fracassa ao tentar resumir: mãe, pai, vida, família... Já reparou que tudo aquilo que é indescritível envolve amor?
Resolvi escrever sobre isso porque achei desafiador. Como é que eu vou falar que estou apaixonado, sendo que até ontem eu me questionava se alguns relacionamentos vividos foram amor ou apenas conveniência, tesão e carência? Por via das dúvidas, achei melhor me permitir respirar com calma e apenas sentir — porque sentir, por si só, já diz muita coisa. E eu não tive dúvidas: era amor. Como se não fosse o bastante, era um amor daqueles cafonas, sabe? Do tipo que a gente gosta, mas ainda assim prefere dizer que não.
Então é isso, estou lascado. Nas palavras de Caio Fernando Abreu: “a paixão me pegou, tentei escapar, não consegui”. Tá, na verdade essa é uma música de pagode. Mas é isso: até mesmo eu, que dediquei os últimos anos da minha vida para construir armaduras e convicções irredutíveis para me defender de possíveis paixões que pudessem findar em machucados (foi assim antes), caí nessa emboscada assustadoramente maravilhosa que é perceber-se apaixonado. Porque o amor tem disso, né? Ele nos faz sentir mais vivos, mais corajosos. E mesmo que a gente já tenha passado por isso antes, ainda assim corre-se o risco: a gente pode virar bobo da noite pro dia.
Nenhum de nós está imune. Mesmo vacinados, é melhor continuarmos usando máscara... Opa, quer dizer, é melhor continuar se cuidando. Nunca se sabe, né? O amor está por todo o lugar.