Não sei dizer ao certo o que foi que me fez tão mal dias atrás, mas o que quer que tenha sido, acertou em cheio o meu estômago. Alguns diriam que é apenas um reflexo do estresse e nervosismo, já eu acho que foi só alguma coisa que comi e não caiu bem mesmo. Honrando os meus quase trinta anos, passei a noite de sábado enrolado em um chambre (porque eu seria jovem demais se falasse “roupão”) e com uma bolsa de água quente apoiada na barriga. A dor parecia eterna.
Fiz chá, tentei permanecer quieto (tarefa difícil para mim), e torci para que a dor passasse logo. É nessas horas que a gente repensa aquilo que faz e percebe como não nos tratamos da forma que merecemos – àquela altura, eu já me culpava pela falta de cuidados na minha alimentação. Mesmo sabendo que reclamar não adiantaria nada, persisti na ideia até o momento em que derrubei um copo cheio de água acidentalmente no meu sofá. E aquilo foi tudo que eu precisava (sem nem saber).
Saltei do meu casulo confortável em disparada até a área de serviço. Peguei alguns panos e tentei secar o máximo que pude do sofá encharcado com a ajuda de um secador (não estou recomendando para que você faça o mesmo). A minha batalha de dono de casa da madrugada de sábado durou uns 15 a 20 minutos. Não posso dizer que o perrengue se resolveu em um passe de mágica, diferentemente da minha dor de estômago. Inclusive, foi só quando olhei para a bolsa de água quente que eu me lembrei que estava mal minutos antes.
Gosto quando algum imprevisto se transforma em reflexão. E cá entre nós, isso pode acontecer com qualquer detalhe. Foi a partir do sofá encharcado que eu consegui visualizar a ideia de que quando estamos totalmente focados em alguma coisa, dificilmente sairemos dela. O problema em questão nos prende, puxa para dentro como areia movediça, e automaticamente estamos em um ciclo sem fim. Contudo, furando a bolha percebemos que basta ampliar a visão para ver que nada deve merecer 100% da nossa atenção. Assim, evitamos uma maximização desnecessária de algo que pode ser passageiro – quase sempre é.
Lembrei de uma vez que procurava um livro na estante de um sebo. Eu estava focado em uma única prateleira que trazia os títulos com a inicial do autor que eu buscava. Confesso que fiquei um bom tempo negando para mim mesmo qualquer equívoco e persisti. Eu estava deixando algo passar, é claro!
Acabei me rendendo. Em um curto lapso, dei um passo para trás e olhei o todo. Desfoquei e furei a bolha. Como você pode imaginar: voilá! Fui embora com o livro e com a ideia de que quanto menor o campo de visão, menores as possibilidades. Quanto mais atenção aos meros e já esperados obstáculos do dia a dia, menores as chances de eles serem justamente o que pretendem ser: temporários.