Estava conversando com uma amiga sobre as suas últimas investidas amorosas e ela me contou de um encontro engraçado que teve recentemente. Do outro lado da mesa do restaurante, a vítima da vez contava sobre um conhecido que tinha falecido ainda jovem, enquanto a minha amiga, atrapalhada em meio à comida (e aos drinks para driblar o nervosismo), deixou escapar: “nossa, mas ele morreu fora de época, né?”.
Não quis julgar porque eu talvez desse um bola fora tão bonito quanto. Acabei rindo, é claro, até porque a amizade nos permite essas coisas. Não preciso nem falar que a conversa dos dois ficou estranha a partir daquele momento e que aquele foi o último encontro, mas a história toda me fez pensar muito sobre o tempo que temos para viver e como escolhemos que ele seja vivido.
Deixando de lado a religião de cada um, há quem diga que algumas pessoas são consideradas completistas: aquelas que vêm ao mundo, vivem tudo o que há para viver, aproveitam tudo que lhes é oferecido, completam suas missões e deixam a Terra naquilo que seria considerado como “hora certa”. Em paralelo, tantas outras pessoas apenas vivem como grandes e escorregadias lesmas: fazem da vida um eterno e exaustivo arrastar, deixando pelo caminho um rastro de toda a sua lamúria.
Mais cedo ou mais tarde, todos reclamamos da vida, ao mesmo passo que ninguém quer morrer. Festejamos os aniversários de maneira simbólica, como que para nos certificar de que sobrevivemos a mais um ano de tantos obstáculos que negativaram parte da jornada. Esquecemos, assim, que na ponta do pé não carregamos um carimbo com data de validade. Quem é que sabe quantas velas sopraremos no nosso último bolo?
Aprendemos na escola, ou até mesmo com a educação de mundo em si, que nascemos, crescemos, criamos e morremos. É um ciclo baseado em estágios pré-definidos, guiados por uma expectativa de vida que nada mais é do que uma média – tem quem morre aos 20, tem quem morre aos 80 (aqui, seguindo um raciocínio de Kotler, a média torna-se inútil). Mas e quando a vida simplesmente chega ao fim do nada, sem mais nem menos?
Uma vez li o caso de um advogado que quis provar no tribunal que a vítima poderia ter se matado sem intenção. Ao demonstrar a sua hipótese, ele atirou nele mesmo e morreu. Todas as religiões podem explicar de uma forma ou outra qual é o sentido de uma vida interrompida, ou, melhor dizendo, uma morte fora de época. Independente de qual for a crença, uma coisa é certa: “vamos viver tudo o que há pra viver” – e, principalmente, “vamos nos permitir”. De preferência, sem tantas lamúrias, por favor.