Você está dentro do seu carro dirigindo pela rodovia que parece não ter fim. O destino é o parque de diversões mais comentado dos últimos tempos, e a propaganda foi tanta que o trajeto é percorrido com um frio na barriga típico. Ao fundo, parecendo até uma miragem, você vê a silhueta de uma das montanhas-russas mais altas do país, e instantaneamente um medo bobo te consome assim como a dúvida de encarar ou não o desafio. No fim das contas, o receio provém de uma única indagação: e se algo der errado exatamente na minha vez?
Pensei tanto nessa cena durante uma madrugada de insônia que passei a me dar conta de como ela é contraditória. Estatisticamente falando, a cada 24 segundos uma pessoa morre em um acidente de trânsito. Enquanto isso, a chance de você morrer andando de montanha-russa é de uma em 1 milhão. No caso, o caminho percorrido de carro até um parque de diversões é muito mais perigoso do que as próprias atrações do lado de dentro dos portões mágicos. Sendo assim, passei a me questionar porque é que o nosso medo acaba sendo seletivo. E a resposta foi tão óbvia...
Na maioria das vezes, nós escolhemos os nossos medos. Aquilo que a gente tende a recear é exatamente o desconhecido, o inexplorado. A primeira vez. Quando estamos sentados dentro do carrinho de uma montanha-russa, presos na trava de segurança e sem chance para retornar, a nossa mente ferve: e se der errado bem agora? E se tudo descarrilar? E se as falhas forem tão sucessivas a ponto de nada dar certo?
Mesmo com medo, a gente vai. E em 99,9% das vezes, saímos vivos. A adrenalina de uma montanha-russa nos faz sentir que podemos tudo, que vencemos, que o desconhecido era um monstro criado e alimentado por nós mesmos – o qual somos os únicos com o poder de combatê-lo. Em resumo, o medo é aquilo que nos mantém vivos.
E assim são os novos anos e os novos meses, sempre sobrecarregados de metas e projeções. A incerteza nos consome, mas assim como em um carrinho de montanha-russa, não existe escolha: a gente só segue em frente, toda a vida (uma frase do meu avô, mas que também pode ser de um desconhecido que eu pedi ajuda em uma rua desconhecida de uma cidade também desconhecida, aliás).
Que a vida é movida por desafios todos nós já sabemos, mas que a gente tenha a capacidade de neutralizar os nossos medos e encará-los com um pouco mais de confiança. No mínimo, não sofrendo tanto a ponto de acreditar que eles são maiores do que nós. Assim como fazemos quando a gente sai para andar de carro, sabe? Uma atividade perigosíssima! Mas que, mesmo assim, a gente só pega as chaves e vai.