Vênus agora se exibe ao entardecer. Tão lindo! É o astro mais brilhante para nós, depois do Sol e da Lua. Por conta disso, é dos mais ricos em referências culturais. A depender de sua posição em relação ao Sol, pode revelar-se a oeste, logo após o poente, ou a leste, antes do amanhecer, alternando suas alcunhas de Estrela Vespertina e Estrela Dalva. Tanto fascínio garantiu-lhe o mesmo nome da deusa romana da beleza e do amor – equivalente à grega Afrodite. Assim, o lugar de Vênus em nosso mapa astrológico indica a área em que queremos luzir, seduzir e deleitarmo-nos com o bom da vida.
O bom da vida? Mas bom para quem? Vênus rege os gostos pessoais e os padrões estéticos. São pessoais por envolverem temáticas de planetas próximos à Terra – como Mercúrio e Marte –, ligados ao que define nossa identidade. Vênus aponta o que nos dá prazer e realça a grandeza de manifestar a nossa natureza. Já diz o ditado: o que é de gosto é regalo da vida. E outro: gosto não se discute. Pois, como compôs Caetano, somente “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Nesse espectro de assuntos relativos aos prazeres pessoais, Vênus abrange da lida com o próprio corpo ao desejo sexual, do luxo aos sentidos. Nossa linguagem ilustra isso em expressões derivadas da palavra Vênus, como venerar, camisa-de-vênus e venérea. Curiosamente, a palavra veneno também bebe nesse radical. Antes da acepção negativa que o termo tem hoje, veneno era apenas uma poção feita para aumentar o desejo sexual. Seria o mesmo que afrodisíaco, que alude à grega Afrodite.
Como a posição do planeta Vênus vai variar entre 12 signos, e com mais o toque angular modificador de outros planetas, os gostos pessoais igualmente serão amplos e até originais. Cantava Raul Seixas: “O que eu como a prato pleno / Bem pode ser o seu veneno”. O comum, no entanto, é tentarmos “universalizar” ou impor nosso gosto, como se ele fosse o parâmetro estético mais sensato, já que faz sentido para nós. Mas o efeito venusiano tanto está no osso que trespassa o lábio de um indígena quanto na maquiagem discreta da executiva.
E olha mais um ditado venusiano: quem ama o feio, bonito lhe parece. O símbolo astrológico de Vênus lembra um espelho de mão. Espelho, aliás, é um objeto de primeira necessidade na frasqueira da deusa que louva o encanto. Diz-se que a beleza que vemos fora já existe como conceito dentro de nós. Espelhamo-nos no que nos seduz, em outras palavras. No mapa astrológico, a posição de Vênus é tanto o que apreciamos quanto o que desejamos.
Por essa projeção, Vênus é o planeta que mais dá pistas do tipo de relacionamento que nos atrai. E os já citados ângulos que fará com os demais astros trarão mais nuances ao que vamos viver como romance ou desejo. Se Vênus, por exemplo, estiver em ângulo tenso com Marte, questões de individualidade e competição podem apimentar a relação – e uma boa rusga todo
dia vira regra. Se fizer ângulo fluido com Saturno, o amor pode ser maduro e sóbrio – e aqui até pode-se ter atração por pessoas mais velhas.
Voltando ao bom da vida. Todo mundo precisa ter amor próprio, quer ser feliz, quer amar, todos buscam paz e conforto, mas as respostas a esses anseios, embora ditadas por padrões culturais, estão longe de seguirem as mesmas vias. Afinal, na linha relativa das mil facetas de Vênus, tem gosto para tudo. Ainda bem.
Ah, e neste domingo Vênus deixa o signo de Gêmeos e entra em Câncer. Menos rua, mais casa? Vênus troca o cardápio das ofertas de prazer.