Devido a sua fase de retrogradação, a atual passagem do planeta Vênus pelo signo de Capricórnio está a durar um tempo longuíssimo: quatro meses. Termina somente dia 6 de março, quando o astro ingressa em Aquário. Só para comparar, em seu passo normal, Vênus leva menos de um mês para cruzar cada signo. Essa prolongada estadia no signo da realidade convida-nos a refletir sobre o que valorizamos. O tempo – outro tema capricorniano – entra aqui como um filtro a ser considerado em relação ao que devemos mudar ou preservar. Eis um bom convite para repensar a qualidade do nosso tempo.
Signo da realização mundana e da prudência conquistada pelas experiências, Capricórnio, e seu regente, Saturno, se afinam na construção de uma disciplina produtiva e eficiente. Isto serve para quê? Aonde aquilo nos leva? Por que investir nisso? Que garantia aquilo nos traz? A postura capricorniana costuma ser tão pragmática quanto lúcida e responsável. Mas essa última palavra leva a outras questões. Respondemos realmente a que princípios? O que motiva o assumir de nossos compromissos? E o que define mesmo nossos valores?
O trânsito em curso de Saturno por Aquário foi marcado por um encontro com Júpiter, conjunção que ocorre a cada 20 anos em signos diferentes. Por envolver os gigantes do céu, tais conjunções costumam deixar marcas nos rumos da sociedade, a depender do signo onde ocorreu. Em macrociclos de 200 anos, as conjunções vão se dando em signos de mesmo elemento – e, nos últimos dois séculos, a terra foi o elemento. Isso reforça a materialidade dos paradigmas ainda vigentes. “Tempo é dinheiro”: essa máxima tem sido um alicerce da era industrial capitalista que resultou em nosso mundo. Para o bem e para o mal, capitalizamos o tempo.
A mudança de elemento das conjunções entre Júpiter e Saturno – que doravante passarão a ocorrer em signos de ar – pode ser lida como uma passagem do “ter” para o “ser”. Elemento das ideias e da vida social, o ar tende a questionar a materialidade possessiva da terra. Uns com tantos, outros com nada: que sociedade pode funcionar bem com tal modelo? A longo prazo, que problemas a posse individualista pode gerar? Assim, à luz de paradigmas mais inclusivos e fraternos, urge revalorizar o tempo. Precisamos trocar o “tempo é dinheiro” por “tempo é partilha”, ou “tempo é usufruto da vida”. Tirar do tempo seu critério estritamente quantitativo para outro mais qualitativo: não é fácil essa reeducação, mas para isso teremos 200 anos pela frente.
A revisão do valor do tempo também tem sido estimulada pela passagem do transformador Plutão por Capricórnio, de 2008 até 2024. A noção de fronteira – assunto tipicamente saturnino – vem sendo demolida até mesmo pelo modelo econômico da globalização. Ironicamente, quer o capitalismo faturar globalmente, mas não responder pela consequência social disso. E há quem aposte na repetição do passado, ou de ideais radicalmente conservadores, para se garantir no futuro. Mas a história não funciona assim.
Buscar caminhos produtivos mais verdadeiros é um desafio presente. Verdadeiros quer dizer em sintonia com o essencial de cada um, e não como resposta automática ao externo. O universo-máquina instaurado desde a Revolução Industrial está em crise. Ou melhor, estamos nós em crise, por não cabermos mais no desgastado ideal de realização pautado apenas na acumulação material. Ser feliz pode custar muito pouco. E parafraseando Juca Chaves, rico mesmo é quem tem tempo.