Domingo de manhã, sento-me para escrever este texto, que alguns lerão, talvez, na manhã do domingo seguinte. Uma semana se passa entre a escrita e o seu objetivo final. Há esse tempo em que o texto, embora finalizado como conteúdo, ainda seguirá em preparação, no trabalho da diagramação, da ilustração e da edição final, até ser apresentado na página do jornal ao leitor. A flecha que ora disparo em palavras ainda precisará viajar no tempo e no espaço antes de chegar ao seu alvo.
Mas quem disse que o texto se cumpre quando o eventual leitor o decodifica? Não teria o texto alguma pretensão, ainda que velada, de acender uma possível luz no leitor, gerando reflexões? E se acaso o leitor viajar em seus próprios pensamentos a partir de algum disparador vindo do texto lido, não estaria o texto também a ganhar sobrevida num mundo além do meu? E não seria essa pretensão oculta exatamente a razão pela qual agora escrevo?
Bem, eu não deveria estar “perdendo tempo” com esse olhar para os bastidores da escrita. Mas, se reflito sobre aspectos dessa arte, é porque quero iluminar a atenção ao que está antes e além do texto. Minha ideia é convidar o leitor a sair do foco convencional pelo qual partilha argumentos e opiniões, para pensar nas causas e consequências do que é articulado. E atento ao viés astrológico que costuma ter esta coluna, explico que todo esse caminho de abrir o pensamento reflexivo sobre nossas atitudes é uma expressão da energia de Sagitário, signo por onde agora o Sol transita.
Sagitário vem da palavra latina sagitta, que quer dizer seta. Nos antigos exércitos romanos, cada arqueiro era chamado de sagitário. Descubro no dicionário Aurélio que até há em português o verbo sagitar, com os significados de “dar forma de seta” e “expedir ou lançar à maneira de seta”. Conjugando o verbo: eu sagito, tu sagitas, ele sagita, nós sagitamos. E o céu fica cheio de flechas voadoras. Mas será que tais flechas ampliam o nosso pensar? Favorecem a comunicação e o entendimento? Ou apenas querem ferir ou calar os outros?
Sagitário é o signo da flecha que busca a sabedoria e, por isso, faz do conhecimento seu alvo. É o signo da filosofia. Não basta pensar e falar, como cabe ao signo oposto, Gêmeos. Também é preciso refletir por que pensamos de determinada maneira e não de outra. Em Sagitário, devemos descobrir o que é a verdade para nós. Isso pode nos levar a procurá-la por toda a vida. E talvez melhor seja jamais encontrá-la de todo, pois a armadilha nesse sempre estimulante caminho é o dogma: quando nossa flecha não está mais disposta a mudar de direção e nos tornamos donos da verdade.
Estejamos atentos. O contexto maior desse meu texto é o de um universo de histéricos “direitos à opinião”. Como se a facilidade de dispará-las se convertesse numa obrigação de assim proceder. Só que ninguém quer mais ouvir ninguém – já inventaram até aceleradores dos áudios recebidos nos aplicativos. Ao mesmo tempo em que, perigosamente, todo mundo se torna cheio de razão. Com tantas flechas voadoras em sentidos opostos, o céu vira campo de uma batalha sem fim.
Neste final de ano, tempo tradicional de inventários e desejos, urge refletir sobre nosso processo de comunicação. “Sagitar” defensivamente da própria trincheira pode ser tudo, menos um ato pela paz. Assim, essa minha flecha-texto quer soar apenas como uma partilha do meu esforço, pela minha paz, pela nossa paz, de doravante escutar mais do que falo. Dois ouvidos e uma boca: o corpo já dá a medida disso.