É simbólico. Nasci no ano em que morreram dois ex-presidentes do Brasil. Em 1976, o país armado despedia-se de Juscelino Kubitschek e João Goulart. JK morreu em 22 de agosto em um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra. Muitos ainda questionam que teria sido assassinado. Enquanto que Jango, deposto em 1964, morreu em 6 de dezembro em sua fazenda La Villa, na cidade argentina de Mercedes, na província de Corrientes. Em tese, teria sido um ataque cardíaco. No entanto, há quem afirme que, tanto JK quanto Jango, teriam sido assassinados por agentes de uma operação militar norte-americana.
Nasci no período em que o movimento punk chutava pra sarjeta toda a atmosfera paz e amor, pisoteando as flores com seus coturnos pretos, incendiando pequenas plateias de bares cavernosos com manifestos de anarquia e guitarreira desmedida. Reza a lenda que em 4 de junho ocorreu um show memorável do Sex Pistols. Reportagens da época noticiam que haviam apenas 40 pessoas na plateia. Entre elas, Morrissey, Ian Curtis, Mark E. Smith, Tony Wilson e Peter Hook. Ou seja, uma gurizada que faria parte de bandas como The Smiths, Joy Division, Buzzcocks, The Fall, Magazine e Happy Mondays.
Ainda em 1976, Elis Regina, pra muitos a melhor cantora em língua portuguesa em todo o sempre, lançava o LP Falso Brilhante. Entre as canções, estava a de um guri chamado Belchior. Como se desse murros em uma porta trancafiada, Elis cantava assim: “Minha dor é perceber / Que apesar de termos / Feito tudo o que fizemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos / Como os nossos pais”.
Elis, no Brasil , e , Ferreira Gullar, na Argentina, versavam contra o mesmo muro. O poeta havia escrito em 1975, Poema Sujo, em Buenos Aires. No ano seguinte, por conta da divulgação da leitura do poema – cuja fita com a gravação havia sido trazida por Vinicius de Moraes ao Brasil – impulsionou a edição do livro. Sobre o poema, Gullar escrevera: “O poema deve começar antes de mim. Começar antes do verbo”. De cara, estava impressa em versos a mesma voz de Elis: “turvo turvo / a turva / mão do sopro / contra o muro”.
No mesmo ano, o visionário Francisco Stédile aceitou o desafio e mandou construir um estádio em seis meses pra que o Caxias pudesse disputar uma vaga pra jogar na elite do campeonato nacional. Tijolo sobre tijolo, o glorioso Centenário foi erguido no bairro Marechal Floriano, onde antes se encontrava o Estádio da Baixada Rubra. A inauguração foi no clássico Caxias x Internacional. Para provar que não tem sapo enterrado ali, o Caxias venceu por 2 a 1. Ou seja, os insucessos de agora em nada tem a ver com a obra de 1976.
Nas telas foi lançado Taxi Driver, dirigido por Martin Scorsese. Robert De Niro interpreta Travis Bickle, uma espécie de justiceiro lutando contra o que chama ser a escória da sociedade com brio, bravura e doses de violência. A trilha é de Bernard Herrmann, cujas composições já haviam sido usadas em Cidadão Kane, de Orson Welles , e também em Piscose e Um corpo que cai, de Alfred Hitchcock. A trilha de Taxi Driver foi a última composta por Herrmann, que morrera em dezembro de 1975.
Pois é. Nem todo aniversário é festivo. Alguns são só doloridos.