Os pacientes esperam e os ansiosos atropelam. Os inseguros tropeçam e os desesperados berram.
As estações, diferentemente do senso comum, não ensinam nada. O inverno é rigoroso, porque é da sua essência ser assim. No inverno o cinza se sobrepõe a todas as cores. E não é porque a primavera se revela em múltiplas matizes que a vida de todos será leve como uma revoada de borboletinhas.
Faltam cem dias pra fechar 2022. A partir de quinta-feira (22) é contagem regressiva pra quem tem pressa de lacrar este ano numa caixa do esquecimento. E nem se trata apenas de política. É mais fácil pensar no futuro do que viver o aqui e agora, cadenciando um dia por vez, projetando o corpo para dar um passo de cada vez.
O que há por fazer em cem dias? Assistir aos cem filmes mais importantes da história do cinema? Ou ainda, repetir cem vezes “eu te amo”? Ou então, ler Em busca do tempo perdido, do Marcel Proust, um título que é uma metáfora em si mesmo? E se quebrássemos os cartões que nos vinculam às empresas em que trabalhamos e vivêssemos em uma grande comunidade autônoma e autossustentável?
Não sei se é só comigo que isso acontece, mas sempre que alguém fala em planificar o futuro, a impressão que eu tenho é que estamos tentando fazer o que deixamos de fazer no passado. É como um amigo meu que está sempre planejando voltar a pedalar quilômetros sem fim. No ato contínuo de planejar estamos sempre querendo tapar um buraco, um vazio que ficou nas trilhas que percorremos ontem. No final das contas é sempre uma tentativa de acertar as contas do passado.
Se não for reeleito, o que fará Jair Messias Bolsonaro nos últimos dias que restam a frente de seu governo? E Eduardo Leite, então, que renunciou ao cargo de governador? Quais ações o prefeito Adiló Didomenico vai colocar em prática até o dia 31 de dezembro? E o Tite? Qual estratégia ele vai incorporar ao seu planejamento pra levar a seleção brasileira ao topo do mundo do futebol novamente?
Depois de lida, essa crônica vira passado. E amanhã só restarão 99 dias pra fechar 2022. Enquanto saltarmos afoitos do passado pro futuro perdemos a jovialidade do presente, o encanto de uma troca de olhares, a ternura de um beijo que tem o poder de paralisar o tempo.
E a política como é que fica? Em meio a palavras como desencanto, esperança, resistência e fé, e de velhos jargões como “juntos somos mais fortes”, os pacientes esperam, os ansiosos atropelam, os inseguros tropeçam e os desesperados berram.