Aos 17 anos, foi a primeira vez que Adiló Didomenico, nascido em Marau, pisava em Caxias do Sul. Tinha poucas informações sobre a cidade grande, a não ser o fato de que um conhecido seu dizia ter vaga de trabalho na Madezatti. Veio a Caxias porque sonhava com oportunidades melhores na vida. Entre o percurso desses primeiros passos daquele jovem com uma vida pela frente a transitar por Caxias do final da década de 1969, até o presente momento, aos 68 anos, Adiló se vê agora na reta final do primeiro turno das eleições 2020, concorrendo pela primeira vez ao cargo de prefeito, pelo PSDB.
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Em 51 anos, conheceu o amor, casou e teve filhos, abriu com afinco uma trincheira para uma carreira como comerciante, dançou em bailes de gaúcho, colheu frustrações e enfrentou perseguições. Apesar de ostentar um bigode saudosista, como se nos remetesse às décadas de 1970 e 1980, Adiló tem atualizado o guarda-roupas. Na manhã em que concedeu a entrevista, vestia um terno de corte mais moderno, combinando com uma camisa mais jovial, e usava um relógio com design dos anos 2000. Se é estratégia de marketing, só o tempo vai dizer.
Sobre essa relação de juventude e maturidade, Adiló diz ter um ensino precioso. É quase um aforismo, como aquela frase do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, que, ao ser perguntado qual conselho daria aos jovens, respondeu: "Jovens: envelheçam rapidamente!".
— Eu costumo dizer que quando tu é jovem tu é incendiário, depois tu vai te alistar nos Bombeiros — diz, sorrindo, com semblante daquele tio que fica à mesa, depois do churrasco em família, compartilhando das lições da vida.
Adiló disse isso no contexto do que estava ocorrendo no movimento estudantil, quando começou a envolver-se com a política.
— Eu conheci o Sartori em 1973. Ele já estava metido na política estudantil. Na faculdade me enturmei e também me envolvi na política. Nós éramos um pouco mais maduros, e os jovens eram mais eufóricos. Naquela época, dentro do grupo, eu era o mediador. Conquistamos cinco diretórios acadêmicos e o diretório central, em 1982, que foi meu último ano na faculdade. Nos denominávamos Unidos Unidade — recorda Adiló, formado em Economia pela UCS, dizendo que alguns dos seus colegas que saiam para pichar muros em sinal de rebeldia, eram combatidos pelos mais maduros do grupo.
PADRINHOS POLÍTICOS
Além de José Ivo Sartori, com quem trilhou os primeiros passos na política, Adiló diz que a pessoa que o conduziu para a vida pública foi Mansueto de Castro Serafini Filho.
— Em 1988, fui coordenador financeiro da campanha do Mansueto para prefeito. Em janeiro de 1989, me filiei ao PTB e ajudei a reestruturar o partido, que foi uma das siglas que compôs a aliança com o Mansueto, ao lado de PL, PFL e PSDB — revela.
Atualmente concorrendo à prefeitura de Caxias pelo PSDB, Adiló faz questão de frisar a importância de Sartori e Mansueto na sua vida pública.
— Me espelhei muito no Sartori, naquele período em que convivemos, e até hoje tenho um respeito muito grande por ele. Mas na vida pública foi o Mansueto quem me colocou para dentro, quando ele me tornou presidente do Conselho Administrativo da Codeca. Aí tu não consegue mais se afastar da política — revela.
O PESO DE UMA DECISÃO
Adiló deixa escapar de que há uma espécie de atração pelo desafio, principalmente quando se está na administração pública. É como se fosse aquele fio do novelo que parece não ter fim. Na eleição passada, em 2016, o plano era concorrer à prefeitura, principalmente, diz ele, pelo trabalho que fez na Secretaria de Obras, mais ainda do que na Codeca.
— Me elejo vereador, com uma baita votação, e aí o Alceu Barbosa Velho (PDT) me convida para ser secretário de Obras, porque a secretaria apresentava sérios problemas de controle. O que realmente se confirmou. Suspeita de venda de brita, maquinário espalhado pelo município, ninguém tinha controle sobre isso. Acabei assumindo a secretaria e talvez tenha sido a maior tristeza para a minha esposa. Eu assumi um compromisso com ela, de ser vereador para ter mais tempo para a família, mas, por outro lado, tu tem o dever para com a sociedade — diz, com o coração aflito.
ESCOLTA POLICIAL
Os primeiros 60 dias como secretário foram bastante difíceis, revela Adiló.
— Aí veio o pior, que a família nunca soube e está sabendo só agora. Nos primeiros dias eu tive de sentar com o prefeito e pedir escolta policial, porque eu vinha sofrendo ameaças. Foram 60 dias muito difíceis. Tu tem de guardar segredo disso e não poder recuar, nem desistir. Inclusive o Pioneiro noticiou, mas o que foi noticiado era só a ponta do iceberg — conta.
— Nem sua esposa soube disso? — questiono.
— Na época, não. Se ela soubesse eu tinha de desistir, porque esse foi o combinado com o prefeito. O Alceu reuniu o secretário de Segurança que era o Coronel Louzada, expomos a situação e foi designado um delegado para cuidar do caso, e em 60 dias identificamos o foco.
— Quanto foi desviado, o senhor tem ideia?
— Eles compravam R$ 3 milhões de pneu por ano e não tinham estoque. Eu fiquei 3 anos e 3 meses e gastamos apenas R$ 1,5 milhão em compra de pneu. Hoje, a licitação está ali, em R$ 600 mil, por ano. Não precisa falar mais nada, né?
DESTINO NEM SEMPRE AFÁVEL
Adiló diz que depois das experiências na Codeca e na Secretaria de Obras havia um cenário favorável para que ele concorresse à prefeitura. Só que o destino pregou a peça mais penosa da vida do Adiló. Em novembro de 2015, morria Célia, esposa de Adiló. Apesar de terem se passado cinco anos, Adiló tem muita dificuldade ainda em falar do assunto.
No dia 7 de novembro de 2015, Adiló acordou, deixou a esposa, ainda dormindo na cama, fez a barba e foi para a cozinha preparar o chimarrão.
— Mais tarde, voltei para chamá-la, porque iríamos para uma festa em Vila Mariana. Cheguei no quarto e ela estava morta, só tinha se virado para o outro lado. Foi uma morte súbita... — diz, sem conseguir terminar a frase.
Adiló resiste às lágrimas, esfrega uma mão na outra, com força, baixa o semblante, e reconhece a dor da morte que ceifou a vida da esposa, mas não amor que sente ainda por ela.
GOVERNABILIDADE
Caso seja o vencedor da eleição em 2020, Adiló entende que a governabilidade depende da união de políticos, entidades e setores diversos da comunidade caxiense.
— O grande desafio do próximo prefeito é convergir essas forças para o mesmo sentido. Quando Caxias fez isso, conquistou as grandes obras, assim foi com a BR-116, com a Rota do Sol, o trem, enfim, foi assim que trouxemos investimentos importantes — argumenta.
Por fim, Adiló se acomoda na cadeira, já de olho na agenda do dia, após uma sessão na Câmara de Vereadores, e defende a bandeira que carrega desde os tempos de política estudantil, em que julgava ser um conciliador:
— Não se constrói nada com espírito destrutivo.
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