Não são só os indivíduos que podem usar a arte filosófica para suprir o que falta à vida. Grupos e até sociedades inteiras recorrem a ela para equilibrar sua existência. Aos 81 anos, o professor, escritor e filósofo Jayme Paviani desenvolveu ao longo de sua carreira uma prolífica produção textual sobre essas questões, estando imortalizada em célebres livros, artigos e ensaios, e sendo compartilhada com incontáveis colegas e alunos.
Ao rememorar momentos marcantes de sua trajetória, o filho de Raymundo Paviani e Esmerilda Ferrarini Paviani (in memoriam) inicia relatando a sua infância:
— Nasci e cresci no interior de Flores da Cunha. Fui uma criança muito feliz, rodeada por natureza, com muito sol, mas com uma brisa fresca que compensava o calor das tardes, brincando entre as árvores do jardim.
Na juventude, Paviani graduou-se na Licenciatura em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul, e continuou seu aperfeiçoamento cursando Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito da mesma instituição. Em seguida, publicou seus primeiros poemas em uma coletânea organizada com amigos das salas de aula, reunidos sob o título de “Matrícula”.
Seu brilhantismo na Filosofia impulsionou rapidamente o ingresso como professor na UCS em 1965, época em que se engajou, inclusive, com a administração, desempenhando funções executivas e organizacionais. Doutorou-se em 1987 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, com a tese “Razão Sensível, a Racionalidade como Categoria Estética”. Em 2000, completou seu pós-doutorado em Filosofia na Università degli Studi di Padova, na Itália. Atualmente, leciona em cursos de pós-graduação da UCS.
— Ser professor sempre foi minha paixão; continuo a dar aulas com a mesma vivacidade. Quem ensina são os meus alunos; aprendo muito com eles. — revela o atencioso marido da também professora Neires Maria Soldatelli Paviani.
Sua afinidade com análises críticas dos acontecimentos do mundo são, com certeza, o maior legado que ele diz que poderá deixar para os filhos, a médica Mônica Soldatelli Paviani e o dentista e músico Leonardo Soldatelli Paviani, e para os netos Martina, Enzo, Franco e Maya.
— À medida que as relações interpessoais evoluem, nosso cotidiano necessita de interpretações inéditas. O Brasil, em especial o Rio Grande do Sul, foi o berço de importantes intelectuais, mas cabe às gerações atuais formarem um novo conceito para a história da região. — reflete Jayme Paviani, ao demonstrar esperança de dias melhores.
A Filosofia é um registro da boa observação, e ela nos instiga a seguir esse seu espírito de descobrimento, ainda que poucos de nós nos dediquemos ao regular estudo dessa área do pensamento. Para o ilustre filósofo, ela é capaz de corrigir as falhas da mente e de nos auxiliar a compreender nossa temporalidade.
— Diariamente, me atualizo com leituras, tanto da minha biblioteca particular, quanto navegando pela internet. Acompanhar o progresso do mundo é um desafio. Não há semelhanças crescentes observáveis em todos, mas uma diversificação das pequenas versões pessoais. — discorre o mestre.
Para além dos conceitos, estão as ideias. É nesse universo que o erudito Paviani transita com interdisciplinaridade entre o sentir e o pensar. Assim, ele finaliza deixando um conselho para aqueles que desejam trilhar um caminho afortunado e de sucesso:
— Nossas maiores riquezas são o amor e o conhecimento.
Três autores para se ler:
- Machado de Assis;
- Guimarães Rosa;
- Philip Roth.