É oportuno perguntar-se o que é a arquitetura. Há muitas razões para evidenciar essa questão que não é comumente mencionada; a mais importante, com certeza, é a existência do que podemos chamar de "meio ambiente social". A arquiteta Cristina Mioranza, mestranda em Teoria, História e Crítica da Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, confirma que a profissão que escolheu seguir é capaz de orientar comportamentos e está constantemente a serviço dos sonhos daqueles que a buscam.
"Não consigo pensar como seria minha vida sem que a arte e a arquitetura estivessem envolvidas. Foi como uma seleção natural. Somos rodeados e acolhidos por elas. Trazem sentido à existência" — discorre Cristina, ao nos mostrar sua intrínseca relação com o métier.
Para além de imaginar, organizar e construir, ela observa, desde a infância, atentamente as edificações que a cercam.
"Na casa da minha avó materna Marcolina Trentin (in memoriam), como primeira neta dela, pude ter o seu melhor, os aromas da culinária, os ensinamentos e a demonstração de fé inabalável" — rememora a renomada arquiteta filha de Plínio Mioranza e Ivone Maria Trentin Mioranza, e casada com o médico porto-alegrense Luciano Machado de Oliveira.
A família é o pilar fundamental de Cristina. Tanto é que também está debruçada na produção de um livro sobre seu tio Ary Nicodemos Trentin (in memoriam), que em breve será apresentado oficialmente, e que ganhará vida pelas letras do jornalista e escritor Marcos Kirst. Além disso, os bisavós maternos dela já inspiraram outras histórias por aí, como é o caso da obra "O Quatrilho", de José Clemente Pozenato, através de um relato de seu tio Ary e de seu avô Idelfonso Antonio Trentin (in memoriam) que, inclusive, foi adaptada para as telas de cinema pelo diretor Fábio Barreto e protagonizado pelas atrizes Glória Pires e Patrícia Pillar.
"Todos os dias, temos momentos marcantes, que fazem a vida ser mais dinâmica e feliz. Mas uma passagem muito interessante, em 2015, foi ter ido a Chicago com a turma da faculdade para uma imersão em inglês técnico. Voltar a vida de estudante foi revigorante. Me senti no filme 'A Casa do Lago' e também, posso dizer, 'Curtindo a Vida Adoidado', ambos feitos por lá" — relata Cristina.
A natureza da arquitetura possui regras, e é necessário compreendê-las para então saber qual o momento correto de quebrá-las. A força da criatividade, se bem conduzida, pode ressignificar o curso de um projeto inteiro. Uma casa ideal reflete o estilo de vida de quem a habita, e é por essa perspectiva que Cristina acredita nas relações interpessoais e no conhecimento empírico para guiar a carreira no setor.
"A minha casa foi projetada por dois arquitetos caxienses sensacionais, Paulo Bertussi e João Alberto Marchioro. Tiveram grande influência na minha vida profissional, sobre como entender os espaços e as volumetrias arquitetônicas. Um prédio bastante conceitual, inspirado nos palácios renascentistas italianos e na casa do imigrante vindo da Itália. Seus interiores acabam servindo de laboratório para novos projetos e materiais. Assim, minha casa está sempre em constante transformação" — declara ela.
Atualmente cursando o Mestrado pela UFRGS, Cristina tem como objeto de seu estudo a intervenção moderna do arquiteto italiano Carlo Scarpa (1906-1978) no Castelvecchio di Verona, e diz ter nele uma fonte de referências.
"Além de Scarpa, minha admiração vai também para Luiz Eduardo Indio da Costa, arquiteto brasileiro com um repertório ímpar. O projeto da nova orla de Balneário Camboriú é do seu escritório, e envolve 360°, arquitetura, urbanismo, design e transportes" — revela Cristina, que é apaixonada pelo traçado genuinamente brasileiro.
"A regionalidade, materiais, tecnologias diferentes. Essa nossa brasilidade aparece no design de uma forma muito peculiar e especial. O maior nome hoje do design nacional é Guto Indio da Costa, meu amigo pessoal, mas independentemente da amizade, seu trabalho renovou nossa produção e colocou o Brasil novamente no roteiro internacional de tecnologia e design" — complementa nossa entrevistada, estreitando os laços entre o pessoal e o profissional.
Ao lembrar de inúmeras etapas significativas que contribuíram na construção de uma carreira sólida e de sucesso, Cristina Mioranza aconselha os aspirantes da área: "Temos que entender do nosso ofício, e ter a segurança na orientação de clientes e fornecedores. Um melhor conhecimento da arquitetura pode contribuir para que muitas pessoas adotem uma posição mais crítica e exigente em relação ao que as cercam no cotidiano".
Para completar:
- Meu lugar preferido em casa é… o jardim, onde a paisagem é inspiradora, e meu quarto, onde descanso.
- Um ambiente equilibrado é aquele que… tem proporção.
- Casa boa precisa ter… chuveiro bom e cama boa.