A arte como lugar de encontro!
O jovem caxiense Jacks Ricardo Selistre, filho de Raquel Kuver e Marcio Selistre, atualmente debruçado no último ano do Doutorado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, já é referência em pesquisas e artigos teóricos sobre o universo da arte, tanto que o tema central de seu estudo são os modos de construção da história da arte e seus efeitos de verdade, na qual resgata obras e narrativas que foram sistematicamente ocultadas. Membro benemérito da Confrartes, do Grupo Conhecendo Arte e do Grupo Deslocamentos da Fotografia na Arte/CNPq/UFRGS, Jacks também é artista visual, trabalha com pintura expressionista, esporadicamente realiza curadorias na área e produz artigos para periódicos. Na vida, ama a praia e o mar, encontrar os amigos e viajar de avião.
Que conexão lúdica faz com a infância? Os verões que passei na praia de Curumim com meus avós Leonita Veronese Kuver e Valnides Cardoso Kuver (in memoriam), era maravilhoso. Diariamente me levavam para o mar para encontrar meus amigos. Nos divertíamos, entravamos na água, jogávamos taco, construíamos castelinhos e fazíamos guerra de areia.
Ao lado de quem gostaria de ter sentado na época da escola? Não fui aquele aluno mais aplicado, conversava bastante, então escolheria sentar ao lado do Cazuza para divagar, e sobretudo para ouvir aquela voz única. Tenho curiosidade em saber o que se passava naquela mente inquieta e festeira que compôs algumas das músicas brasileiras mais bonitas, dançantes e críticas.
Qual a passagem mais importante da tua biografia? Há várias passagens que são importantes. Agora, destaco o período no qual fui morar em Santa Maria para cursar o mestrado. Foi um momento de dedicação absoluta aos estudos, em que tive que aprender muito rápido como o sistema acadêmico da pós-graduação funcionava. Uma experiência de autoconhecimento.
O que é arte e como interpreta a função dela na sua vida? A definição da arte é um problema histórico e filosófico que intriga a muitos teóricos. Acredito que defini-la seria limitá-la, e ela não pode ser limitada, a arte cruza e perpassa as fronteiras. Tem função primordial na minha vida, ela aguça o pensamento crítico, questiona as verdades e as certezas que se posicionam como absolutas, proporciona novos pontos de vista, abre novos caminhos, nos tira do lugar-comum. A arte é um modo de lidar e de apontar os problemas do mundo, mas não necessariamente um modo de resolvê-los.
De que forma se deu seu primeiro contato com a arte? Foi como artista, aconteceu em Curumim, quando vi a Sandra Elisa da Luz, mãe de uma amiga, pintando telas com tinta a óleo. Fiquei fascinado com as bisnagas de tinta e com as peças, quando cheguei em casa, pedi para minha mãe um kit de pintura a óleo de presente, e logo que ganhei já comecei a pintar. Tinha uns dez anos nessa época.
Quem são as suas influências em relação às artes visuais? Como artista, me influencio na produção de Iberê Camargo, do argentino León Ferrari, e da nossa conterrânea Beatriz Balen Susin, por quem tenho grande admiração.
O que considera essencial para quem pretende estudar e se especializar em arte? Dedicação e atenção. É essencial frequentar as mais diversas exposições para criar um imaginário de artista e estabelecer conexões, ler muito e de fontes variadas, participar de seminários e de congressos e um bom nível de inglês também ajuda bastante.
Quais perspectivas vislumbra para os futuros profissionais da área? Vejo como muito profícua a área da restauração de obras de arte, bem como a arte e tecnologia, envolvendo a computação, a inteligência artificial.
Como avalia, hoje, o mercado a cena de arte contemporânea no Brasil? Em plena ascensão, mesmo no cenário crítico em que o país se encontra. Ouvi de um importante leiloeiro que nos últimos meses a procura em adquirir obras de arte cresceu exponencialmente, as pessoas estão mais em casa e investindo em itens de decoração. Além disso, no Brasil temos duas feiras de arte que são referências há anos, a Art Rio e a SP-Arte que reúnem importantes galeristas das mais diversas partes do mundo, exibindo e comercializando obras dignas de museu. Destaco as Bienais de São Paulo e do Mercosul, que também nos representam no panorama artístico global, com um viés mais crítico.
Quais seus projetos para o futuro? Está trabalhando em algo? Assim que concluir o doutorado, pretendo iniciar uma especialização em leilões e perícia de obras de arte. Estou muito interessado em trabalhar com o mercado de arte, com investimentos em arte. Além disso, continuarei a escrever artigos e a realizar curadorias, sempre com uma perspectiva crítica acerca do mundo. Para o ano que vem, eu e o Grupo Conhecendo Arte, temos programada uma grande exposição comemorativa do centenário da Semana de Arte Moderna, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim, da Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima, a protagonista da exposição será um desenho de Anita Malfatti que participou da Semana de Arte Moderna de 1922.
Como estimular a produção artística local? Através de editais de financiamento, de premiações, da criação de novos espaços culturais que sejam inclusivos e acessíveis aos artistas e ao público, e que esses espaços tenham um projeto educativo que incentive a visita das nossas crianças, temos que estimular nelas o hábito de frequentar museus e exposições.
Qual imagem lhe representa? À beira do mar com um guarda-sol azul listrado, uma cadeira e um livro.
Uma obra de arte que gostaria de ganhar ou comprar: difícil escolher apenas uma. Poderia fazer uma lista imensa de obras e essa lista estaria sempre em construção. As que mais têm me atraído são “Jogos Perigosos”, de autoria de José Leonilson; e “Soldado”, de Rosana Paulino.
Um pensador e um pensamento: “A arte é o lugar da liberdade perfeita” - André Suarès.
Um livro que mudou a sua vida: no fim do Ensino Médio, início da graduação, eu li várias vezes “O livro de sonetos”, de Vinícius de Moraes. Levei essa obra para quase todas as minhas viagens por uns bons anos, de modo que, hoje em dia, o meu exemplar está destruído de tanto que ele perambulou comigo.
Um hábito que não abre mão? Tomar muita água, e de preferência gelada e com gás.
Qual a primeira coisa que fará quando a pandemia passar? Ir à Europa visitar meus amigos, bater perna em vários museus, me perder pelas cidades. E depois embarcar para alguma praia animada para tomar banho de sol, fazer festa, tomar cerveja e conversar bastante com todo mundo.