A felicidade real e compartilhada
Hoje apresentamos a sensibilidade de Paula Scortegagna Balen, filha de Amabile Scortegagna (in memoriam) e Valdir Scortegagna, graduada em Psicologia pela UCS e com especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental na Infância e Adolescência, além de formação em Psicologia Positiva. Casada com o advogado Rodrigo Wisintainer Balen, tem dois filhos, Giulia e Luca. Nesta conversa discorre sobre a essência do ser e a necessidade de se buscar um mundo mais colaborativo e menos competitivo.
Qual sua lembrança mais remota da infância e que paralelo faz com seus filhos? A convivência com os amigos e primos, estava sempre rodeada de pares, brincando o tempo todo. Hoje incentivo meus filhos a fazerem o mesmo.
O que é o bom da vida? Saber viver com sabedoria e tranquilidade, para aproveitar tudo de bom que nos acontece e aprender o que de ruim se apresenta.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Meu casamento foi e é muito importante. Meu marido me trouxe um lugar seguro, de aconchego, que me permite ser quem sou, com todas as minhas vulnerabilidades e principalmente, me permite voar. Já dizia Bolwby, que nós somos seres relacionais, e desde que viemos ao mundo, nosso sistema biológico é programado para procurar por conexão, por apego. Acredito que encontrei este apego seguro, que voa junto comigo, que me deixa também voar sozinha, mas que num voo a dois, vamos mais longe. Então, o título seria “Flying Away”.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Admiro muitas pessoas, mas sempre penso: sem calçar os sapatos do outro, não temos como saber o que ele vive ou viveu. O que enxergamos no outro quase sempre é uma interpretação através das lentes que temos, sobre uma percepção de algo que só é mostrado superficialmente. Portanto, não sei se gostaria de voltar à vida na pele de outra pessoa, penso que cada um vem com suas experiências para viver.
Gostaria de ter sabido antes... mais de mim. Ter me conhecido melhor antes, com certeza erraria menos, sofreria menos, teria feito escolhas diferentes. O autoconhecimento é o norte que nos guia, é a luz que ilumina nossos caminhos e é a verdade que nos liberta e nos faz evoluir como ser humano e como ser divino.
Se tivesse vindo ao mundo com uma legenda ou bula, o que conteria nela? A legenda seria: “Sabe viver só, mas só não vive!”
Como se mantém atualizada na sua profissão? Muito curso. Meu marido me pergunta regularmente: “quando você vai parar de estudar?”. Nunca, respondo. Estou sempre fazendo algum curso na minha área, no momento estou realizando três on-line. Faço supervisão com a minha irmã, Lilian Scortegagna, em Terapia do Esquema; cursos em Terapia Focada nas Emoções e outros com enfoque em Psicologia Positiva. Ser psicóloga requer muita atualização, estudo.
Livro de cabeceira: “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, do escritor e palestrante Shawn Achor.
O que te inspira? Querer ver e viver em um mundo melhor, mais cooperativo e menos competitivo, mais sistêmico e mais humano.
Um hábito que não abre mão? O ritual da hora de dormir: contar histórias para meus filhos, rezar e agradecer a Deus por todas as coisas e por tudo que nos aconteceu no dia. Além de criar uma conexão maior entre nós, quero ensinar meus filhos a olhar, valorizar e agradecer tudo que possuem, a focar no que é bom e a ter fé.
Quais são os seus planos para o futuro? Além do meu trabalho no consultório, pretendo desenvolver projetos que auxiliem as mulheres no seu desenvolvimento pessoal e profissional, ajudando-as a descobrir todo potencial que tem dentro de si. Somos nós mulheres, que temos a graça de gerar uma vida, e muitas vezes não nos damos conta da grandiosidade que somos, da luz que temos. Hoje as mulheres possuem um bom espaço no trabalho, mas percebo que ainda precisamos conquistar uma posição na sociedade, pois o machismo, de forma velada, ainda existe.
A melhor invenção da humanidade? A energia elétrica. Ela permite tantas facilidades na vida, luz, computador, televisão, carregar nossos smartphones e hoje principalmente, poder trabalhar de forma remota.
Um filme para assistir inúmeras vezes: Sex and the City., do diretor Michael Patrick King. Toda vez que assisto, percebo um ponto diferente do mundo feminino, nas desilusões amorosas da personagem Carrie e nos seus questionamentos sobre os relacionamentos; na busca por espaço no trabalho de Miranda e nos seus dilemas entre ser mãe ou ser profissional; na incessante busca por um príncipe e o casamento dos sonhos da Charlotte; e na desilusão que o envelhecer traz para Samantha. Todas as perdas que envolve e a dificuldade em lidar com algo que vai acontecer com toda mulher. E tudo isso regado a uma boa amizade, cumplicidade, apoio e compreensão, o que todas nós mulheres, precisamos.
Amar é... entregar-se por inteiro, sem medo, podendo mostrar todas nossas partes, mesmo as mais escondidas, mas que são partes de nós. É poder ser verdadeiro e ser aceito como se é, com nossas qualidades, defeitos e vulnerabilidades. E também aceitar o outro como ele é, pois não somos perfeitos nem para nós mesmos.
Reflexão de cabeceira? “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda.” Carl Gustav Jung.
Como alcançar o autoconhecimento na terapia? É um processo que requer tempo, paciência, disposição, entrega persistência e coragem. Olhar para dentro de si, profundamente, pode ser assustador, carregamos diversos sentimentos, histórias, experiências, que muitas vezes são dolorosas e não queremos mais sentir. Mas é aqui que se encontra o segredo do bem-estar, quando conseguimos nos aceitar por inteiro, com todas as nossas partes, as boas, e as nem tanto assim. É essa consciência que vai nos guiando na caminhada, e é no caminhar que descobrimos quem somos.
Como trabalha com os pacientes para terem uma vida sistêmica e conscientizá-los que não precisam ser nota dez em tudo que realizam? Gosto muito de utilizar uma técnica que aprendi e reformulei, na qual mostro, por meio de uma estrela de oito pontas, os oito pilares que são base e sustentam nossa vida. A partir da consciência que as pessoas vão tendo de onde estão neste momento de vida, quais são seus comportamentos, onde estão investindo a sua energia, onde estão as suas dificuldades e as suas potencialidades, se dando conta se tudo isso está alinhado aos seus valores, elas passam a perceber que não precisam ser dez em tudo, mas que sim, é necessário que sejam o seu dez em tudo, fazendo o seu possível.
O que o mundo precisa para ser mais colaborativo e menos competitivo? Que as pessoas comecem a olhar para quem são, seus dons, seus potencias, suas características e seu perfil. Se dar conta de que cada um é único, por isso não existe competição em um mundo em que cada um vê o seu real valor, quem realmente é e nasceu para ser. Quando as pessoas querem ser iguais às outras e não respeitam suas particularidades, elas passam a competir, pois se são iguais, precisam fazer algo maior para se destacar, para ser melhor. Quando se consegue ver dentro de si, as suas capacidades, e que são diferentes do outro, entramos em um mundo colaborativo, pois cada um tem habilidades diferentes, que vão se complementar.
O que falta no mundo? Consciência. Tanto do mundo interno quanto do externo. Com mais consciência as pessoas são menos competitivas, menos preconceituosas e briguentas, norteiam suas vidas na colaboração e não na disputa de poder, são mais empáticas, solidárias e cooperativas.
Uma qualidade: lealdade.
Uma palavra-chave: gratidão.
Uma mensagem para os leitores e leitoras: “A felicidade só é real quando compartilhada”.