Passaporte para o mundo
Hoje é dia de revelar aspectos do sucesso de Eduardo Beux Tonietto, filho de Leonel Antonio Tonietto (in memoriam) e Helenice Beux Tonietto. O arquiteto caxiense formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1999, com mestrado em Design Estratégico pelo Politecnico di Milano, atua como gerente de design entre a cidade de Nova Iorque e a Serra gaúcha. Conheça mais sobre este determinado capricorniano!
Qual sua lembrança mais remota da infância e que sabor te remete a essa época? Lembro fortemente do carinho dos meus pais, irmãos, tios e tias. Tenho muitos primos e a sensação de estar em família e conviver de perto nos agrega amor, faz entender o nosso papel em um grupo e nos desenvolve emocionalmente. Lembro dos dias de verão brincando no pátio da casa onde cresci, das viagens até o Rio de Janeiro de carro, dos fins de semana no camping da Vindima, das tardes no Recreio da Juventude e na sede da AABB.
Qual a passagem mais importante de sua biografia e que título teria se fosse publicada? Vivo com a expectativa que ela ainda irá acontecer. Se pudesse escolher um título gostaria que fosse “Felicidade”.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Do músico e poeta francês, Serge Gainsbourg (1928-1991).
Um traço marcante que pode salientar na arquitetura positiva das cidades que residiu pelo mundo: viver sem precisar de um carro. Poder caminhar e resolver todas as necessidades diárias com a facilidade da mobilidade urbana acessível que nos faz ganhar tempo.
Qual sua primeira produção como arquiteto profissional? Foi no departamento de inovação da empresa italiana de cafés, illycaffè, em 2001, uma colaboração entre a instituição e um aluno da faculdade de design de Londres. O projeto dele era ir de Trieste, sede da illycaffè, até Londres em uma Ape Piaggio, uma espécie de veículo com três rodas, equipada com máquina de café expresso, servindo e colecionando experiências emocionais. O fim da viagem era na realidade dois eventos simultâneos acontecendo em Trieste e Londres. Foi um projeto inovador para a época, ganhou grande visibilidade com um artigo no Financial Times e teve um excelente retorno para a empresa e para o aluno.
Quais foram seus primeiros trabalhos que lhe garantiram projeção? Depois de ganhar notável visibilidade com os projetos da illycaffè, fui chamado para colaborar com a L’Oreal, em Paris e as boutiques da Kiehl’s e Shu Uemura, em Milão. Também assinei a arquitetura das lojas da Giorgio Armani Cosmetics, na China, em Hong Kong e no Japão.
Quais conselhos daria para quem quer ingressar nessa profissão? Dedicar bastante tempo e energia para as coisas que você tem afinidade, desenvolver bom senso estético e principalmente respeito por todas as pessoas com quem você interage.
Como vislumbra a cena de arquitetura contemporânea no Brasil? Acho muito bom quando vejo pessoas projetando com uma linguagem local, valorizando técnicas, materiais, cultura, história e mão de obra local. Ao mesmo tempo o desenvolvimento de novas mídias a partir da internet e a globalização ajudaram os brasileiros a ganhar projeção internacional com designs que são únicos e distintos, justamente por que são de inspiração local. Acredito ser muito positiva essa internacionalização do Brasil, tenho certeza que logo poderemos exportar nossa arquitetura.
Um aspecto importante na geografia de uma cidade e que promova qualidade de vida: a relação dos edifícios com a rua, quando eles têm janelas e portas e pessoas que podem olhar a movimentação. A rua e a cidade possuem vida.
Qual a importância da arquitetura como fator de identidade de um povo? Considerando a vida de um edifício mais longa que a vida de uma pessoa, acho que a permanência da arquitetura na cidade constrói e reforça a identidade de um povo. Caxias cresceu muito, acredito que estamos à procura da nova identidade da cidade, que tipo de cidade queremos?
Um ícone da arquitetura e um do design: o arquiteto português Álvaro Siza e o designer alemão Dieter Rams.
Casa boa precisa ter... ar, luz e personalidade.
Acredita em casa ideal? Como é a sua? Morei em vários lugares e criei o gosto por ambientes amplos, pé-direito alto, janelas grandes e com muita luz natural. O apartamento que moro em Nova Iorque é mais alto que o normal, são 4,5m, as paredes externas são vidro do chão ao teto, a luminosidade é muito agradável. Já em Caxias do Sul tive a sorte de encontrar um apartamento dos anos 1960 com um pé direito duplo, dois andares, no coração da cidade.
Lugar preferido em casa e outro fora dela... em casa a sala de estar, fora dela a natureza.
Qual foi o último achado para sua casa? Uma mesa no estilo Knoll de segunda mão que vai ficar no meu escritório do apartamento em Caxias do Sul.
Uma peça de design atemporal: a poltrona Donna, de Gaetano Pesce.
Um ambiente equilibrado é aquele... onde nos sentimos tranquilos e o que está acontecendo ao redor é neutro, não interfere no nosso humor ou nas nossas decisões.
Um projeto dos sonhos? Criar cenografia para uma ópera, peça de teatro ou musical. Quem sabe um dia?
Fontes de inspiração? Caminhar na rua e observar as pessoas, cada uma diferente, cada uma com a sua vida, o seu estilo, acho super inspirador. Também gosto muito de museus de arte, curto especialmente coleções privadas transformados em fundações: Poldi Pezzoli, em Milão, Jacquemart-André, em Paris e Frick Collection, em Nova Iorque.
Conte-nos mais sobre sua rotina dividida entre Nova Iorque e a Serra gaúcha: a pandemia criou uma pausa na rotina do escritório e nos deu a possibilidade de trabalhar remotamente. Agora tenho a oportunidade de poder passar um pouco mais de tempo com minha família e amigos queridos em Caxias do Sul enquanto passo a maior parte do dia conectado participando de reuniões de trabalho. Os horários nem sempre são confortáveis devido a diferença de fuso com Nova Iorque. A parte boa é que quando chega o fim de semana, já estou aqui. Posso curtir família e amigos sem precisar seguir conectado na telinha.
Onde busca equilíbrio e harmonia, seja no ambiente profissional ou pessoal? Momentos de estresse existem sempre. Prefiro relativizar, fechar os olhos, respirar fundo, lembrar que nada é tão grave ou irreversível, sorrir e ir adiante.
Livro de cabeceira: As Cidades Invisíveis, romance do escritor italiano Italo Calvino.
Filme para assistir inúmeras vezes: Feitiço do Tempo, do diretor Harold Ramis; A Vida Marinha com o oceanógrafo Steve Zissou; e As Noites de Cabíria, de Federeico Fellini.
Quais músicas não saem da sua playlist? Ouço música do momento que acordo até o momento que vou dormir. São tantas que estão sempre ali mas destaco: Resposta ao Tempo, de Nana Caymmi; Out in The Cold, de Carole King; Estate, de Ornella Vanoni; Harvest Moon, de Neil Young; Parce que, de Charles Aznavour; e Wave, de João Gilberto.
Uma palavra-chave: agregar.