O admirável mundo de Gonçalo
O publicitário e escritor Gonçalo Lisboa Mascia, filho de José Antônio Veronese Mascia e Lígia Maria Lisboa Mascia, tem no DNA uma herança de grandes fazedores. É descendente da família Veronese, clã da célebre indústria química caxiense e do casarão de pedra em Otávio Rocha. A avó de Gonçalo, Nelly Veronese Mascia (in memoriam), foi professora de Português e membro fundadora da Academia Caxiense de Letras. É também bisneto de Joaquim Pedro Lisboa, o idealizador da Festa da Uva. Nosso entrevistado é formado em Publicidade e Propaganda pela UCS, e sua tese de conclusão de curso foi sobre a própria Festa da Uva. Dono de um blog repleto de conteúdo, Gonçalo escreve sobre arte em postagens semanais: www.goncalomascia.blogspot.com.br. Conheça mais sobre este disciplinado sagitariano que em 1995 atuou no filme “O Quatrilho”, de Fábio Barreto!
Que conexão lúdica faz com a sua infância? Os brinquedos do He-Man e o castelo de Grayskull. As brincadeiras com os amigos nas piscinas do Recreio da Juventude e do Clube Juvenil. As festinhas de aniversário e os videogames dos anos 1980. As fitas na era VHS. Assistir ao Balão Mágico, Superamigos, Thundercats e Caverna do Dragão na TV. Ah, e os álbuns de figurinhas.
Ao lado de quem gostaria de ter sentado na época da escola? Papa Francisco. Ele é simples, humilde e clemente. Respeita o mundo e é moderno. Um sopro de renovação em uma igreja milenar. Tem o carisma de um rei.
Traço marcante de sua personalidade? Perfeccionismo, do tipo não descansar enquanto não está tudo “nos trinques”, naquela “neura” de publicitário em estar tudo bem finalizado e acertado. Já levei muito “xixis” por ter faltado com a atenção a algum erro. Realmente, é necessário ter muita disciplina, pois só ela é o que pode organizar a vida de alguém.
Com que mensagem encara o mundo? Viva um dia de cada vez, como na frase “Roma não foi construída em um só dia”. A vida não é só trabalho. Como dizia em “O Iluminado”: “Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão”. A vida precisa de pausa.
Gostaria de ter sabido antes... sobre o coronavírus, para a humanidade ter se prevenido antes do alastramento do vírus. É como a peste negra na Europa. São os percalços da dimensão material.
Na sua adolescência você fez cinema e brilhou no filme “O Quatrilho”, de Fabio Barreto. Como foi a vivência no set de filmagem e o retorno do público? O Fábio tem meu integral respeito. Adoro ele. Um grande homem. Na época do filme, as pessoas se uniram ao redor dele para produzir a película. Foi um esforço titânico. Fábio teve uma dignidade de príncipe, abanando para o povo no extinto Cine Imperial ao fim da projeção em Caxias. O ambiente do set era uma delícia, puro prazer, interagindo com as pessoas. A recepção no Festival de Gramado foi ótima. Patrícia Pillar é um doce de pessoa. E Gloria Pires me disse o que é preciso para se construir um personagem: paciência. A produção foi um momento de união de forças, em que as pessoas esqueceram de suas diferenças e se uniram em torno do Fábio.
Filme para assistir inúmeras vezes: Matrix. Muito bom. Um ícone da geração de 1999. Um argumento incrível, e cenas de ação ótimas. Matrix é uma pérola.
Um livro que todos precisam ler: O livro de Tao. É uma doutrina que só pode ser aprendida instintivamente, com o coração, com a inteligência emocional, ou seja, é uma doutrina bloqueada a pessoas frias e insensíveis. Este livro me deu um nó na cabeça, no bom sentido. É na classe e na distinção de Jesus, sempre oferecendo a outra face. E o livro já começa dizendo: “O Deus sobre o qual podemos falar não é o verdadeiro Deus”. É o caminho da eternidade, a qual é a prova do poder imenso de Tao, nosso Pai.
Quem são suas referências no mundo artístico? Diana Krall, a princesa do Jazz. Meryl Streep, genial. Leonardo DiCaprio, excelente. Marisa Monte, diva. Stanley Kubrick. Respeito muito o Carlos Iotti. E tem aquele Renoir fabuloso no MASP. Infelizmente, não conheço o Louvre, mas babei no museu Metropolitan, de Nova York.
Frase máxima? Não deixe o fracasso lhe subir à cabeça, palavras da minha excelente professora da UCS, a Maura Pereira Konzen. São aqueles professores que valem cada centavo da faculdade. Como da querida Magda Corsetti Torresini, minha professora de Redação no Ensino Médio, daqueles professores que acabam se tornando amigos.
O que mais respeita no ser humano? O apuro moral, pois o espiritismo coloca que o objetivo da vida é se tornar uma pessoa melhor e mais honesta, de alta dignidade.
Qual a palavra mais bonita da língua portuguesa e o que ela significa para a sua vida? Esperança, depois de um dia de chuva. A pessoa tem que ter a força para superar as vicissitudes. Felizmente, as coisas vão passando.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse uma obra? Foi quando entrei no curso na UCS, correndo atrás do tempo perdido, já que eu abandonara os estudos na PUC-RS. Título: “Começar de novo”.
Reflexão de cabeceira? As pessoas não morrem; só mudam de endereço. Como diz Tao: “Se o seu corpo morrer, não tem problema”. Ou seja, a mente sobrevive à morte do corpo.
Se tivesse vindo ao mundo com uma legenda ou bula, o que conteria nela? Respeite o jeito de cada um. As pessoas são únicas, indivisíveis e eternas. Crescem e amadurecem, mas não mudam sua personalidade.
Um hábito que não abre mão? Um vinhozinho. Um bom espumante geladinho. Os vinhos da Serra gaúcha são cada vez mais respeitados no Brasil e no mundo.
Como surgiu sua afinidade com o mundo das artes? Sempre fui entusiasta da arte. Minha lembrança de infância, numa coleção chamada “Gênios da Pintura”, com Botticelli e outros mestres. Arte é inesgotável, como assistir à uma boa peça de teatro, como “Master Class”, com Marilia Pêra no majestoso Theatro São Pedro, de Porto Alegre. Arte é algo deslumbrante, como uma Gisele desfilando. Arte é para “babar”.
O “Blog de Gonçalo Mascia” é um espaço recheado de conteúdo do mundo das artes. Como surgiu este projeto? Começou em 2015, com o “Blog desde 2015 por Gonçalo Mascia”, e depois mudou para o atual. Juntos, já ultrapassaram a marca de 200 postagens. Foi tudo muito natural, pois chegou um momento em que vi que precisava de um canal de comunicação, um canal autônomo.
Que nomes merecem uma deferência pela obra e trajetória na arte? Botticelli, da Vinci, Agatha Christie, Martin Scorcese, Woody Allen, Dalí, Renoir, Fellini, entre muitos. Em Caxias do Sul, Mara De Carli e Diana Domingues.
O que é arte? É se comunicar com as pessoas, entrando nas mentes, em um diálogo de ser humano para ser humano. O artista busca por esse destaque, esta distinção, como no estilo inconfundível de Yayoi Kusama, ou um Christo e Jeanne-Claude. Aliás, esses dois últimos são grandiosos e fabulosos.
O que considera essencial para quem pretende estudar e se especializar em arte? Sensibilidade e amor pelas expressões artísticas.
Como interpreta a presença da arte na sua vida? Algo que me faz humano e pensante. Pensamento é tudo. A arte é uma janela para o metafísico, pois os artistas, depois do desencarne, continuam produtivos.
Como enxerga a cena de arte contemporânea no Brasil? Teve o momento crucial transgressor da Arte Moderna. O Brasil é muito rico em arte, em todas as esferas, como música. Está repleto de bons artistas. O futuro é bom.
De que maneira considera que o cenário atual está afetando o mercado da arte? As crises são positivas. A arte vai sempre lutar para sobreviver. Essa força está no coração do artista.
Uma mensagem: o autoencontro está dentro da pessoa, nunca fora dela. Passado e futuro não existem separadamente. Pouco adianta puramente se mudar de cidade. A vida está sempre dentro de cada um.