Uma história que reverbera nas ondas de rádio!
Em um passeio pela terrinha, Guaraci Teixeira Seben, 73 anos, um dos personagens mais festejados do rádio, conversou com a coluna sobre sua trajetória profissional e a importância do veículo de comunicação. Natural de Getúlio Vargas, casado com Zenite Machado Seben, tem dois filhos Cláudia e Sérgio e é avô de Bruna e Antônio Seben Piussi. Advogado, radialista e jornalista, especialista em Comunicação Social pela Universidade de Passo Fundo, onde foi professor de Dicção e Oratória e também professor na Faculdade do Senac em Porto Alegre. Colaborou na implantação da Rádio Planalto de Passo Fundo AM e, anos depois, a Planalto FM, canal em que permaneceu por mais de 20 anos e, concomitantemente, ajudou na instalação da TV Umbú, e foi o primeiro apresentador de telejornais e coordenador regional de tele e radiojornalismo. Atualmente apresenta o noticiário das 18:45 na Rádio Estação Web.
O que tem sabor de infância? O cheirinho do pão feito no forno a lenha, com nata, doce de figo e café.
Para quem iniciou uma trajetória profissional na comunicação aos 14 anos de idade, qual notícia lhe deu mais alegria? Foram tantas jornadas, mas a chegada do homem à lua foi realmente impactante.
Ao lado de quem gostaria de ter sentado na época da escola? Sentei-me ao lado de um grande artista que deixou obras perpétuas em várias cidades do nosso país: Paulo de Siqueira (in memoriam). Deixou esculturas magníficas tendo como matéria-prima a sucata. Autor do Monumento ao Teixeirinha, em Passo Fundo.
Traço marcante de sua personalidade? Gosto de gente, gosto do som das palavras e principalmente do aconchego familiar.
Gostaria de ter sabido antes... que a vida nem sempre é justa, embora nos pautemos pela busca do bem e do belo.
Teve algum marco importante ou momento decisivo que influenciou a trajetória? Desde criança sou ouvinte de rádio. Como durmo pouco, sempre tive o “radinho” de cabeceira como companheiro. De ouvinte assíduo, me transformei em um profissional em atividade até hoje. O grande impulsionador desta minha trajetória chama-se Pe. Paulo Augusto Farina (in memoriam), implantador e primeiro diretor da Rádio Planalto de Passo Fundo. Ele acreditou na minha capacidade e, pelo seu exemplo e pelas suas orientações, forjou uma geração de profissionais de alto gabarito que se espalharam pelo Brasil engrandecendo a nobre profissão de radialista.
Se tivesse vindo ao mundo com uma legenda ou bula, o que conteria nela? Certamente o manual que me acompanharia recomendaria: “cuidado com o manuseio para não causar danos”.
Quais são suas memórias de Caxias do Sul? Quais fatos marcantes lhe remetem à Pérola das Colônias? Caxias, para mim, sempre foi sinônimo de festa, de encontro familiar com as tias e primos com os quais mantenho laços de profunda ligação. O casal Milton e Marlisa Salvador, pais do meu querido afilhado Anderson e da Jaqueline, das longas noitadas de risos e causos hilários. De uma cidade pujante e progressista graças ao trabalho de sua gente e da gastronomia típica.
Como cidadão do mundo, a aposentadoria parece não ter lhe deixado parado, está no ar com a Rádio Estação Web. Como é ser radialista nessa plataforma? Há uma frase que diz: “renovar ou morrer.” Radialistas, jornalistas e artistas nunca se aposentam. Trabalhar nas novas plataformas foi um desafio e um novo aprendizado que me obrigaram a manter o vigor intelectual e a difundir a minha mensagem com nova roupagem. Tem sido uma bela experiência. É o rádio que se renova e consolida sua importância. Democrático, direto e prestador de serviço sem perder a emoção.
Quais suas considerações sobre a nova onda de podcasts? São novas formas de comunicação. A internet, pela sua proposta de liberdade, abriu suas portas e deixou que as pessoas mostrassem seu desejo de se exibir e produzir conteúdo dos mais diversos. Cabe a quem acessa separar esse caudal e aproveitar o que for melhor.
Rádio e televisão, qual deles é o veículo “Top 1” no seu entender e por quê? Convivi nos dois veículos por muitos anos. São duas linguagens diferentes. O rádio é instantâneo, vibrante, emotivo, ativa a imaginação do ouvinte. É democrático, companheiro, pode ser ouvido em qualquer lugar. No momento, a TV está passando por uma nova fase e terá que disputar espaço com um novo mundo de sons e imagens que as mídias sociais estão apresentando.
Sua paixão pelo rádio transformou o senhor em mestre. Como é preparar profissionais do radialismo na faculdade do Senac? Formar radialistas é uma experiência extremamente gratificante. Conviver com os alunos renova o professor que vibra com o progresso e a busca dos sonhos e expectativas de cada um. Ver egressos trabalhando e ouví-los nos mais diversos veículos, oferece uma grande e gratificante alegria.
Como ocorreu sua transição do analógico para o digital? Teve alguma peculiaridade? Para quem viveu na época do rádio romântico e artesanal, de repente teve que enfrentar o desafio da modernidade e das novas tecnologias. Foi como trocar o pneu com o carro em movimento. Felizmente a viatura não virou e fui absorvendo gradualmente a nova situação. Ainda hoje peço ajuda ao meu neto Antônio, com 10 anos, para desvendar algum mistério do mundo digital.
Das 3,5 mil entrevistas que o senhor produziu, quais foram as personalidades que mais lhe surpreenderam? É difícil destacar uma dentre as milhares. São figuras distintas e assuntos difusos. Lembro-me agora de uma conversa com o Cônsul italiano, Cavalheri Aldo Alessandri, que falou sobre sua infância na Itália durante a Segunda Guerra, quando teve a oportunidade de ver de perto Adolf Hitler, Mussolini e o Rei Emanuele, todas figuras que entraram para a história. Passaram pelos meus programas artistas famosos em suas épocas como Paulo Autran, Antônio Marcos, Cauby Peixoto, Agnaldo Timóteo, além dos políticos dos vários períodos como o Presidente Figueiredo, ministros, governadores, religiosos, inventores, cientistas e também pessoas comuns do povo que tinham histórias para contar. Aprendi muito com os meus entrevistados, os quais formaram uma grande enciclopédia da qual ainda me valho.
O senhor concorda que comunicação nunca é demais? Concordo. Desde o sino da igreja anunciando a hora da Missa até os modernos meios atuais, a comunicação torna-se indispensável, até porque o mundo ficou pequeno e as pessoas têm o desejo e a necessidade de saber de tudo e cada vez mais. O importante, porém, é como filtrar a verdadeira informação do lixo e das fake news. Checar a fonte é um mandamento indispensável, e credibilidade é artigo que se conquista não importa o veículo ou a origem.
Quem são os mestres na sua área? As escolas de jornalismo estão se renovando e os antigos professores já não estão atuando. Nomes que marcaram época como Cândido Norberto, Lauro Quadros, Maurício Sirotsky Sobrinho, Mendes Ribeiro e outros de suas épocas ainda servem de referência e são lembrados pelos mestres de agora. Poucos novos referenciais surgiram nos últimos anos.
Uma mensagem aos leitores: quem faz o que ama não acha nada difícil e os obstáculos são estímulos para impulsionar a caminhada. O trabalho não é castigo e sim o aprimoramento das criaturas, como já dizia o poeta. A prova cabal disso é a própria Caxias do Sul, terra de gente, que pelo trabalho, construiu um verdadeiro monumento de progresso. Cada vez mais me encanta ver o que os nossos antepassados construíram com suor, lágrimas e denodo na “América, América, América.”