O mundo de delicadezas de Ligia Maria Sperb Gazzola é feito de cores, lembranças e emoções. Não à toa nos últimos tempos ela escolheu a seda como suporte para seus desenhos e estampas. É como se quisesse ratificar que a vida exige suavidade e encantos.
Antes de tornar-se uma designer e artista plástica que tem criado coleções de lenços estampados e peças de homewear, ela formou-se em Ciências e Educação Física, foi atleta da Sogipa, em Porto Alegre. Aí conheceu Ronaldo Brunetta Gazzola, casou-se em 1982. O tempo passou e veio a aposentadoria após anos como professora na Escola Estadual De Ensino Fundamental Matteo Gianella, no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza e por 18 anos no Colégio São Carlos, mas não o fim dos planos. Pelo contrário.
– Eu era um caos, nunca tinha desenhado. E minha vida hoje é o desenho – diz, contando como a arte lhe deu possibilidade de se reinventar: – Essa descoberta me trouxe uma nova perspectiva.
Antes da arte, porém, vieram os meninos que ela chama de “meus sóis”: Gustavo e Ricardo. A perda do filho Ricardo a fez entender algo que parece dar sentido ao seu cotidiano:
– O dia é agora, a vida é agora. Viver da melhor maneira possível. O amor é capaz de tudo, até de deixar ir embora.
Ciente desse fluxo do tempo, Ligia contabiliza afetos e boas lembranças dos pais Lydio Sperb e Maria Magdalena Passuello Sperb (in memoriam) e mesmo do convívio com a avó Ida Bochese Passuello, de quem também herdou o gosto pelas manufaturas. Com o marido, o dentista, professor e cantor dos corais Municipal e da Unimed afina também na área cultural.
– Sempre gostei de arte, tive acesso a informações de jornais, museus e concertos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Eu e o meu marido gostamos muito de arte contemporânea – conta ela.
Esse refinamento estético ela leva para suas coleções de peças de tiragem limitada. A mais recente se chama “Sentir” e deriva na série “Dálias”, com estampas das flores que lembram da casa das avós, e “Colore”, evocando cores e o lado italiano de seus antepassados.
– Minha hashtag é #LigiaGazzolaEstampasEmMovimento. Gosto de criar pequenas coleções. E sempre quis chegar à seda como suporte ideal para minhas estampas – detalha, antecipando a próxima aventura criativa, uma coleção de bolsas para viagem chamada “Arrivederci”: – Está todo mundo com vontade de sair.
Aliás, sair para caminhar é outro dos prazeres de vida dessa inquieta e inventiva mulher descendente de alemães e italianos e cheia de fôlego aos 60 anos.
– Sou apaixonada por caminhadas. São os momentos em que eu pinto, bordo, confecciono. Caminhar me dá um suspiro. Vivi até os 22 anos numa chácara. Gosto de tudo que é ligado à natureza – diz entre plantas e beija-flores na sacada de sua casa, de onde vislumbra boa parte de Caxias.
Esse espírito empreendedor renova o pique e a determinação criativa de Lígia.
– Sou uma empresa do eu sozinho. Faço tudo – diz ela, creditando esse jeito à herança da figura materna, que fazia de tudo em casa, mas que se foi muito cedo:
– Tive perdas, mas elas me transformaram numa pessoa forte. E a vida te chama. Aí, ou tu vais ou tu ficas. Cada um tem seu caminho. Eu acredito no amor e no que ele pode transformar.