Um amigo comemora os quatro anos de namoro (casamento marcado para novembro) com uma moça que conheceu no Tinder. Foi sua quinta tentativa de estabelecer um relacionamento sério. Como é na “vida real”, né? Foram experiências agradáveis, me diz, porém carregadas de ansiedade, pois tinha enorme esperança de achar o par perfeito (existe isso?).
Enfim, o roteiro foi bastante parecido ao dos anteriores, com o benefício de ter dispensado as noitadas regadas a álcool e música de gosto questionável.
Além do interesse físico, prevalecem as afinidades, impulsionando o desejo da partilha com outra pessoa. Ele me fala com grande entusiasmo do tal encontro. Seus olhos exalam felicidade e a fala é carregada de elogios para a criatura amada. Tudo muito parecido com o que se passa do lado de cá, seguindo o script tradicional, vamos ser sinceros.
Eu o escuto com atenção, mas meus pensamentos começam a divagar, resgatando a lembrança de um tempo em que fui contra os contatos via aplicativos. Puro preconceito. Hoje vejo a possibilidade como legítima, em um mundo regido pela renovada vontade de criar um vínculo de afeto. Só mudou a “plataforma”, o resultado é o de sempre: dá certo ou não.
Dizem-nos os mais resistentes do perigo em navegar por esse universo, pois há criaturas mal intencionadas e pode-se entrar numa roubada, etc. Bom, eu percebo isso acontecer seguidamente com os que privilegiam a busca por um parceiro pelo método convencional. Estamos falando de humanos, ora. Virtudes e defeitos se revelam aqui ou lá, independem da forma como são formados os vínculos. E há o aspecto da praticidade.
Quem é legal, costuma sê-lo independente da maneira como se aproxima de nós. O aumento do cardápio tem lá o seu mérito. E pequenas angústias, também. Na minha juventude era possível selecionar entre três ou quatro opções.
Qual a vantagem disso? Quando escolhemos alguém para atravessar juntos o futuro, é bom ir além da página dois. Os conservadores tendem a resistir a essa nova modalidade. Entendo-os, mas é uma lógica questionável.
Lembremos: o amor romântico, assim como se conhece, tem cerca de dois séculos na história. Antes, as uniões eram movidas com o propósito de ampliar o patrimônio. E funcionou inúmeras vezes. Menos expectativas geram mais contentamento. Salientemos: acabamos obedecendo aos códigos vigentes em cada época. No entanto, fiquem tranquilos os adeptos do antigo modelo, por assim dizer: ele persistirá. Mas devemos acolher essas novas manifestações sem fazer um pré-julgamento.
Volto a pensar no casal apaixonado e em tantos que se uniram através de algum site. Está longe de ser o ideal, pela simples razão disto não existir. Sigamos faceiros procurando esse velho sentimento que alimenta a nossa fantasia de plenitude. Haverá riscos, sem dúvida. Ou você prefere ficar no seu quarto, resmungando por um pseudo amor perdido?
A vida é breve e algo de bom pode estar iluminando a tela do seu celular. Dê uma olhada. Ou batendo à sua porta. Melhor abrir.