Um adolescente ou mesmo um jovem adulto costumam permanecer em média oito horas ao dia conectados à internet. Representa, aproximadamente, um terço da vida de uma pessoa. A quem mais você entrega tanto tempo? Família, amigos? É uma pergunta essencial para analisar com seriedade esse fenômeno tão contemporâneo. E o mais grave: isso passa a ser algo automático, sem percebermos seus efeitos deletérios.
Em uma analogia feita pelo historiador Leandro Karnal, é como se continuássemos nos nutrindo com aquilo que nos mata. Por onde atacar essa “doença” que, de maneira insidiosa, afeta a tantos de nós? Pois hoje nem é mais uma escolha. Tudo é feito pelo celular. Poucos ainda frequentam bancos ou entram em filas para pagar boletos. São inegáveis as vantagens advindas dessa novidade e, em tese, ela deveria nos deixar mais livres para... ficar nas redes sociais. Pois estamos fazendo exatamente isso.
Quando for usar um elevador, repare: quase todos estão olhando para o smartphone. E observe: é um percurso de menos de um minuto. Se não se chama dependência, me ajudem a entender, por gentileza.
A propósito da nossa incapacidade de simplesmente existir, a Universidade de Harvard conduziu um estudo para iluminar a questão. Um grupo aleatório foi convidado a participar da seguinte experiência: durante uma hora, eles deveriam permanecer numa sala vazia, sem fazer nada, longe de qualquer distração. O único elemento presente, colocado em um canto, seria uma máquina que produzia choques, causando dor.
O resultado: mais de trinta por cento optou por infligir esse sofrimento a si próprio, por achar insuportável a ideia de ficar sem receber algum estímulo externo. É deveras preocupante. Como consequência, somos incapazes de nos concentrar o mínimo que seja. Tente postar um vídeo mais longo no Instagram. Ninguém vai assistir. Parece uma visão pessimista sobre o tema, mas a realidade se encarrega de reafirmá-la.
É preciso falar e falar para nos conscientizarmos desses mecanismos que nos convertem em consumidores ávidos. Eu me policio o quanto posso para não endossar estas estatísticas alarmantes, porém, é uma luta com ganhos e perdas. As estratégias das grandes empresas de tecnologia para nos manter presos são ardilosas e nem nos damos conta de que vamos felizes para o curral.
A curto prazo, será difícil atenuar as consequências do seu uso indiscriminado. Vamos precisar de pequenos movimentos individuais para balizar a vida entre o real e o virtual. Somos seres influenciáveis e, para evitar um suicídio de ordem emocional, será necessário desenvolver um senso crítico de alta voltagem.
Não precisamos nos culpar, pois somos vítimas de processos de dependência criteriosamente desenvolvidos pelos que detêm esse tipo de conhecimento.
Force seu comportamento no sentido contrário, entregando-se a altas doses de convivência com os outros. Em algum momento se tornará natural. Como caminhar e se alimentar. Bem melhor do que a simulação em que nos encontramos imersos.
Fuja da Matrix!