A monja budista Pema Chödrön tem um pensamento instigante, que também expressa minha maneira de ver a realidade: “Comece onde você está, use o que você tem, faça o que você pode”. Esperamos pelo momento e pelas condições ideais para nos propor a realizar qualquer mudança. Nem falemos daquelas de final de ano. Ou você sabe quem conseguiu emplacar alguma? Comigo nunca funcionou. Aliás, todo propósito ancorado em uma convenção de calendário costuma durar pouco. Alcançar um objetivo, desses para mudar a vida, exige enorme empenho. Porém, a determinação vem ancorada, em certo sentido, num investimento mental. Nossa tendência é a procrastinação. Vou fazer amanhã, hoje estou cansado, não tenho tempo, preciso pensar mais, etc. O cérebro opta por gastar a menor quantidade possível de energia. Para ele, a repetição é bem-vinda. O familiar idem. Contudo, significa uma verdadeira paralisação, uma atrofia no crescimento. Por anos agi assim: se estava mediano, ficava quieto. Me “curei” com terapia e infinitas conversas com amigos. Eles são fundamentais nesse intento tão complexo. Eu sei, toda ruptura causa desconforto: entretanto, contentar-se com o já sabido é insuficiente.
Não dá para esperar pela ocasião ideal. É arregaçar as mangas e continuar em frente. O resultado depende do esforço. A isso se chama viver. Digo para mim: chega de evasivas, levante e siga! O sentimento advindo é estimulante. Depois de reiteradas vezes, torna-se natural. É como dirigir um carro: só pensamos no processo no início, até ser automático. Vamos agir a partir do nosso potencial. É desnecessário querer se cercar de um arsenal de conhecimento teórico. A intuição é uma aliada valiosa. Porém, a descartamos seguidamente. Insista, começando de novo, levando em consideração que a consciência vai se expandindo e nos entrega novos recursos na medida em que nos lançamos ao inexplorado. Tenho achado a aventura exploratória magnífica. Antes eu travava, inventava desculpas, encontrando mil defeitos nas situações e nas pessoas. Devia ser um chato. Mas, como dizem meus mestres estoicos, se alguém se propuser a aprender algo no último dia de sua existência, terá valido muito a pena.
Temos diversos limites. Apropriar-se deles é essencial para evitar cobranças excessivas em relação a nós mesmos. Devemos, sim, torná-los elásticos para, lentamente, ultrapassar o muro que nos separa de novos horizontes. Está lançado o desafio. Esse movimento interior vai lhe proporcionar uma ótima sensação. Palavra de quem está se comprometendo para ser fiel ao princípio proposto no início deste texto. Seremos o que somos. Mantenho essa certeza. Afinal, estaremos aqui até quando? Impossível afirmar. Nutrimo-nos de esperança. Melhor garantir o agora.
Parar está ligado ao apego. Desacomode-se. A condição humana se ancora na superação. É preciso seguir. Sempre seguir.