Ter pouco não é bom. Ter muito, pode ser pior ainda. O ideal é permanecer na média: sem carências ou excessos. Este é o projeto para uma vida saudável. No entanto, como experimentar este estado de equilíbrio com constância? Difícil, mas vale o exercício de refletir sobre como alcançá-lo. Penso sobre isso motivado pela frase emblemática que dá título a este texto.
Se temos a possibilidade de satisfazer todos os desejos, algo dentro de nós atrofia, diminuindo o propósito da busca. É o que vemos no comportamento de tantas crianças e adolescentes. Têm, imediatamente, os seus pedidos satisfeitos pelos pais, ansiosos em não frustrá-los. Porém, mal sabem eles, este é um curto caminho para incapacitá-los frente aos obstáculos posteriores em sua existência.
Deixarão de ter à sua disposição os recursos mínimos para lidar com as adversidades. Evitarei fazer a defesa do valor de endossar as dores para acelerar o crescimento psíquico. Contudo, precisamos desses desafios para adquirir os meios necessários em prol de uma maturidade que nos ajudará frente a situações complexas.
Quando os problemas são resolvidos por terceiros, as aparentes vantagens se transformam em obstáculos para enfrentamentos futuros. Observo, com frequência, pessoas adultas apresentando essa dificuldade depois de terem sido “algodoadas” em seus anos de formação.
O trabalho constante visando o aprimoramento do caráter depende, essencialmente, da aptidão de acessar o modo resiliência. É complexo. Entretanto, o caminho é sempre o mesmo: depois de uma dose de sofrimento, a competência de encontrar uma solução para as aflições aumenta potencialmente. Essa é a condição humana, embora eu também inclua a felicidade como um princípio em que a beleza interior se expande.
A verdade é que as grandes aprendizagens ampliam a consciência e esse processo nos liberta de inúmeros condicionamentos. Primeiro, passa pelo filtro da análise para depois se instaurar em nós.
Para manter o foco e evitar uma conclusão tendenciosa, é importante realçar as qualidades da época em que vivemos. Lembro de minha infância e das mil interdições impostas. Agora ganhamos um espaço de liberdade bem-vindo. A questão é o uso a ser feito dele. Vai aqui um exemplo: uma amiga adequa o cardápio do almoço a partir do gosto de seu filho de seis anos. Desculpem, acho demais. Ninguém deve se considerar reizinho com esta idade. O preço será cobrado posteriormente. A palavra “mimado” costuma defini-los. Houve períodos em que fui privado de diversas coisas pela precariedade financeira de nossa família. Devagar, a vivência de um desses extremos me auxiliou a entender os benefícios e malefícios de tal situação. Hoje, consigo exercitar o controle. Aprendi a esperar pela saciedade e suportar a falta.
Os filósofos nos ensinam a importância da contenção. Cientes do poder do hábito, fica claro que a boa educação de um ser está no esforço, não no acomodamento. A conhecida imagem do burrinho que tem diante de si uma cenoura que não consegue alcançar, traduz esse estado que nos incita a renovar o querer.
Cuidado: tudo de tudo é um perigo.