Ouço frequentemente esta frase. E com certo tom de severidade. Durante anos expressei uma resistência gritante ao uso de redes sociais. Tinha esse sentimento em relação a elas e me mantive fiel. Cheguei a dizer aos quatro ventos: “Só tenho duas verdades definitivas: sei que vou morrer e nunca terei Facebook”. Pois é, até onde eu saiba é impossível, até o presente momento, ter outra opção em relação à primeira, o que é lamentável. Com a segunda já dei um jeito de me tornar bem flexível e, por razões profissionais, faço parte da turma dos que ajudam o Mark Zuckerberg a ganhar alguns centavos extras. Uso o Instagram como uma ferramenta útil ao trabalho de palestrante e escritor. E, veja só, continuo sendo o de antes: adoro encontrar os amigos, preocupo-me em ser ético, leio muito, vejo filmes quase todos os dias, etc. Moral da história: em alguns aspectos, ter sido não significa persistir pelos séculos dos séculos, amém. Custa entender o desejo das pessoas em conservar suas opiniões cristalizadas (ou fossilizadas) até o último suspiro. Dá para evoluir. Basta seguir o fluxo da existência. É difícil. Demorei literalmente décadas para ser maleável, menos severo. Cultivei orgulho de ser pedra, ao invés de areia. Hoje quero desenhar na alma novas possibilidades. Claro, há algo chamado coerência, tantas vezes traduzida, ressalte-se, como o enrijecimento dos conceitos que nos sustentam.
Ando bem contente em estar pensando dessa forma. Aqui vai mais um exemplo. Minha vida social foi, desde que me lembro, bem restrita. Espiava de longe os festeiros de plantão e sentia imenso cansaço só de pensar em seguir esse roteiro. Agora, Deus do céu, é só me convidar: podem contar comigo. Acho uma maravilha. Mas necessito de, no mínimo dois dias da semana, sábado e domingo, para ficar bem afastado de tudo. Sem silêncio e solidão me sinto frágil, desconfortável, estranho a mim. Aprecio a rua e, em igual medida, o quarto. Esse equilíbrio é parte essencial da minha personalidade. Provavelmente isso jamais mude, porém, vai lá saber... De fato, interesso-me por este movimento a ponto dele se revelar um propósito a ser seguido à risca. Tem sido um assunto recorrente na terapia. Pretendo descobrir os motivos ocultos de tal intransigência pretérita.
Críticas serão bem-vindas. Elogios também. Dá para ser feliz seguindo pelos dias de maneira sinuosa, ao invés de em linha reta. Coerência, sim. Rigidez está fora dos planos presentes. Acho um gesto de coragem, digno. Sigo o modelo dos grandes – embora me sinta um modesto aprendiz. Meu mérito é ter deixado de lado a síndrome da famosa personagem de Jorge Amado: “Eu nasci assim, eu sou sempre assim, Gabriela!” Preciso conhecer, experimentar, explorar. Daqui a pouco a festa acaba e evitarei sair dela com a triste sensação de ter aproveitado pouco. Ah, e já expulsei definitivamente do vocabulário a expressão “no meu tempo era melhor”. É uma mentira pregada pela memória, jogando as coisas ruins para o inconsciente. Melhor sentir saudade do que ainda seremos.
Não sou mais o mesmo. E, no entanto, sou.