Somos uma espécie destruidora, mas também aptos a criar soluções admiráveis para superar os estragos provocados. Talvez seja por ter essa visão inclinada ao otimismo que não consigo imprimir dentro de mim uma perspectiva trágica do futuro. Temos a possibilidade de reverter um possível início do fim. Historicamente, é possível perceber essa capacidade regenerativa em instâncias de crise. Pense na primeira e segunda Guerra Mundial. E nas epidemias e acidentes climáticos. De uma maneira ou de outra fomos capazes de produzir recursos extraordinários, inaugurando ciclos de prosperidade onde parecia só haver a presença da derrota. Acredito com convicção ser isso o que vai acontecer com nosso tempo hipermoderno e novidadeiro. Ajustes – eis a palavra condutora nos auxiliando a lidar com o aparente caos. Claro, certos dados de realidade preocupam, evidenciando uma tendência predatória em alarmante escala exponencial. Por outro lado, vê-se algo hoje não muito diferente de cem ou duzentos anos atrás. Entretanto, há uma diferença: agora passamos a ocupar quase todos os espaços disponíveis e sabemos de imediato as notícias de lá e de cá desse planeta tão castigado pela presença do “homo sapiens”.
Adoraria estar vivo daqui a um século. Imagine como a ciência e a tecnologia terão progredido. E o conforto e bem-estar advindos disso. Avalie as dificuldades do homem comum no início do milênio anterior, por exemplo. Ele estava entregue aos caprichos da natureza, restando-lhe apenas culpar alguma divindade por algo pertencente à ordem cósmica. É preciso entender, em definitivo: o universo é indiferente aos desejos e vontades de cada um. Resta-nos a criação de meios para combater o caos. E ao olhar para a frente vejo cada vez a presença de instrumentos que se traduzirão em qualidade de vida.
Uma discussão candente se refere ao avanço da inteligência artificial. Impossível não refletir nas implicações éticas provocadas. Recuso-me a ser o profeta do pessimismo. Se ela dominará a espécie humana? Talvez. Mas daí não teremos a quem culpar senão a nós mesmos. Minha aposta, porém, é que contornaremos a situação e esses sistemas serão de grande utilidade na transformação – positiva - da existência. E, a propósito, ela não extinguirá os empregos, preocupação dos analistas. Haverá, isso sim, uma transição radical na maneira como exerceremos as atividades. E se você se detiver na palavra desigualdade, lembre-se: ela sempre esteve presente e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres nunca deixou de ser abissal. A questão é essa: aprender a olhar com inteligência para a história. Até para não sentir saudade de épocas obscuras romantizadas pela literatura e o cinema.
As mudanças estão acontecendo de forma rápida e inédita. O cérebro sofre para absorvê-las. Talvez seja esse descompasso que gere em nós essa sensação de catástrofe iminente. Onde muitos veem um abismo, podemos vislumbrar oportunidade, tentando fazer uma leitura lúcida dos processos evolutivos.