Sempre apreciei conversar com desconhecidos quando estou em uma fila ou sala de espera. Acho esse pequeno exercício de socialização bastante simpático. Talvez nunca mais esbarre nessa pessoa, pouco importa. Vale mesmo é o aceno, o contato ligeiro nos fazendo sair de nosso mundo particular. Ficamos conhecendo fragmentos de vidas alheias, expandindo a compreensão para além de nós mesmos. Mantive essa prática durante muitos anos, mas agora sinto dificuldades para continuar exercitando o hábito. A culpa? Das redes sociais, é claro. Raramente vejo quem não responda de forma compulsiva seus whats ou bisbilhote no Instagram. E aí fica difícil interromper tal “concentração”. Sim, pois dá a impressão de todos se debruçarem sobre algo importante, importantíssimo. Fico triste ao constatar isso. Guardo certa nostalgia do tempo em que nos aproximávamos, com delicadeza, de quem se encontrasse com um livro nas mãos. Um livro, veja só. Ao ver a disponibilidade do outro, éramos tocados pela alegria: “Também li, gostei demais, os personagens são inesquecíveis”. Tudo parece ter acontecido num passado remoto: na verdade foi anteontem.
Tenho sido condescendente ao solicitarem minha opinião sobre a vertiginosa ascensão do universo virtual. Eu me beneficio dele, reconheço. Entretanto, imponho-me limites. Escuto com atenção o que um amigo me diz. Não só com os ouvidos, como acreditamos enganosamente. O olhar é a maneira mais afetuosa de acolhimento. É impossível dialogar e manter-se conectado a um celular. Muitas vezes, confesso, faço o papel de chato. Em jantares, ao perceber alguém digitando freneticamente, paro e espero terminar. Costuma dar certo.
O que leva tanta gente a desistir de aprofundar os contatos? Pode ser medo, além da incapacidade de estabelecer vínculos, mesmo superficiais. A pandemia elevou isso a um patamar impensável até então. No Japão, um grande número de adolescentes se recusa a sair do quarto. Seus estudos são online e os pais deixam à sua porta alimentos e produtos para higiene. Pretenderão, no futuro, exercer o trabalho afastados do resto da humanidade? Esse processo de individuação exacerbada nos priva da maravilha dos encontros. Eles impõem desafios, sem dúvida, mas é impossível crescer deixando de lado os processos gregários. Num nível deveras preocupante, sou informado que os jovens demonstram cada vez menos interesse pelo sexo. Sexo real. Suas fantasias são “postas em prática” nos sites de conteúdo erótico. Ao se depararem com a realidade em carne e osso, literalmente ignoram como lidar com eventuais frustrações.
Seguirei procurando por gente interessada em gente, sendo confrontados pelas diferenças que constituem o verdadeiro aprendizado. Ficar cada um na sua pode ser cômodo, porém uma péssima escolha para refinarmos a linguagem, o gesto, a convivência.