Você conhece bem o seu filho? Tem certeza? Pense duas vezes antes de responder afirmativamente. Muitas crianças e adolescentes são adoráveis, mas entre eles se escondem também psicopatas, homicidas ou suicidas em potencial. Deprimidos, que sofrem ou provocam bullying. É uma triste constatação, mas as estatísticas e notícias que chegam todos os dias provam que isso é verdadeiro. Reflito sobre o tema depois de ter lido, com a respiração quase suspensa, o livro da escritora Sue Klebold, chamado O acerto de Contas de uma mãe. Ela é progenitora de um dos assassinos de Columbine, responsável pelo primeiro grande massacre ocorrido em uma escola norte-americana de ensino médio. Para essa mulher, que dedicou considerável parte de seus dias à educação moral e religiosa de seus rebentos, a imagem do ser dócil e cativante não coincidia com a do jovem que atirou a esmo em seus colegas e professores numa manhã de abril do ano de 1999.
Só depois de muito investigar, de conversar exaustivamente com psicólogos, psiquiatras e orientadores é que ela percebeu o quanto podia estar enganada: podemos abrigar sob nosso teto um total desconhecido. Mesmo que ele se expresse de maneira amorosa, não revelando qualquer traço patológico. Esse conturbado período da existência traz embutido uma série de frustrações que se ocultam sob a capa da normalidade. Treze mortos e vinte e quatro feridos foi o saldo da chacina. Você pode pensar: certo, mas nem todo mundo sai por aí eliminando seus desafetos. Sem dúvida, porém a repetição assustadora de mortes, como as provocadas nessa pacata cidade dos Estados Unidos, mostra que ninguém está seguro. Tudo parece andar bem, mas no íntimo muitos meninos e meninas padecem de forma atroz, sem conseguir externar a sua dor. Isso vai se avolumando a tal ponto que chega um dia em que explode através de um ato de violência inaudita. O diálogo e a procura dos componentes emocionais costumam ser o caminho mais garantido para a prevenção de situações conflitivas. O problema é que um convite à abertura nem sempre encontra ressonância na hora em que o sofrimento se instaura na alma. O que fazer, então? Não desistir, mesmo quando o confronto verbal se torna o único canal de comunicação.
Muitas vidas foram destruídas e muitas ainda serão se optarmos pelo silêncio e por acreditar que dramas como o descrito são uma fatalidade que jamais alcançará a nossa família. Onde você vê luz pode se esconder a mais tormentosa das noites.