Ainda está por ser constatado o alcance eleitoral do requerimento para instalação da CPI dos serviços funerários na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Mas o efeito é forte. Segundo diz o documento protocolado terça-feira (24/9) pelo vereador e candidato a prefeito Maurício Scalco (PL), que reuniu oito assinaturas, a comissão está sendo criada para investigar “o histórico das concessões funerárias, a regularidade dos serviços prestados, os editais publicados e as comissões relacionadas a esse serviço essencial”. Desde a terça-feira, dia em que o requerimento foi protocolado, Scalco já está explorando o tema em seu horário eleitoral.
O potencial de impacto do pedido de CPI no cenário eleitoral não deve ser subestimado também porque o documento foi viabilizado por duas assinaturas que reviram o cenário eleitoral: do vereador Rafael Bueno (PDT), presidente do partido que integra candidatura da frente de esquerda à prefeitura, e ninguém mais, ninguém menos do que o candidato a prefeito pelo MDB, Felipe Gremelmaier – na foto, os dois vereadores, quando protocolavam, no ano passado projetos para concessão de títulos de Cidadão Caxiense a Alceu Barbosa Velho (PDT) e José Ivo Sartori (MDB), respectivamente.
Quer dizer: outras duas candidaturas, por terem as assinaturas de representantes importantes, embarcaram no pedido de CPI, sob a capa do argumento previsível de obter transparência. O que é bacana, mas não é possível a ingenuidade de ignorar o componente eleitoral.
Já a bancada petista, ainda que, segundo a líder Rose Frigeri, nem tenha ficado sabendo da intenção de uma CPI, não embarcou na criação da comissão. Se a bancada petista não foi procurada para assinar pelos proponentes – Scalco e outros cinco vereadores de direita –, fica claro que Bueno e Felipe foram.
– Eu nem fui procurada para assinatura. Desconhecemos a justificativa, não sabemos se tem fato determinado e objeto definido. Se tem, não vemos problema de ter uma CPI, em que pese seja um instrumento jurídico valioso, que não pode ser banalizado. Também precisamos ver se não é apenas objetivo eleitoreiro – diz Rose.
Já Scalco deixou claro no horário político que vem mais barulho por causa da criação da CPI pela frente:
– Em breve, saberemos quem está do lado do povo e votará pela transparência – afirmou.
Por que assinaram
A CPI dos serviços funerários já fora tentada em março pelo vereador Maurício Scalco, mas faltaram assinaturas. À época, o documento não contou com as assinaturas de Bueno e Felipe. A coluna perguntou a ambos por que não assinaram a mesma CPI em março, e o que mudou agora:
– Porque não fui procurado (para assinar em março). E disse à época: quando retornassem com o tema, que podiam me procurar que eu assinaria – disse Bueno.
– Aguardei pelo lançamento e evolução do edital (de licitação) e pelas audiências públicas. Em decorrência das dúvidas surgidas nos últimos dias, decidi assinar – disse Felipe.
Fortalece Scalco
Queiram ou não, tenha sido outra a intenção ou não, a adesão dos vereadores Bueno e Felipe à CPI dos serviços funerários reforça em evidência e fortalece o vereador e candidato à prefeitura Maurício Scalco. Sob o ponto de vista estritamente eleitoral, o embarque de representantes das duas candidaturas não ajuda a eles. Gremelmaier chegou a avaliar que assinar junto não deixa Scalco sozinho com o tema. O assunto foi proposto desde o início da legislatura por Scalco e pelo então vereador Mauricio Marcon (Podemos). O assunto é bandeira dos dois. E ainda que o tema possa merecer as luzes da transparência que uma CPI produz, o componente eleitoral é óbvio.