Uma situação eleitoral inusitada e improvável – para quem está distante do contexto municipal – está na iminência de ser formalizada em Nova Roma do Sul, em um dos principais redutos do bolsonarismo na Serra Gaúcha. No município, no segundo turno da eleição para presidente em 2022, o então candidato Jair Bolsonaro obteve 77,6% dos votos válidos e o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, 22,34%. O município deve ter candidato único na eleição para prefeito deste ano, e o mais surpreendente: o nome deve ser do PT, do atual vice-prefeito, Roberto Panazzolo, que também é secretário da Saúde de Nova Roma.
O prazo para convenções municipais encerrou-se nesta segunda-feira, e os outros três partidos da cidade – PP do prefeito Douglas Pasuch, o MDB e o Republicanos – não fecharam candidatos para a eleição majoritária, conforme as atas das respectivas convenções, já anexadas ao Divulga Cand, ferramenta do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para divulgação de candidaturas e contas eleitorais. A ata do MDB refere que não houve proposta de coligação nem houve inscrição de chapa para prefeito. A convenção, porém, aprovou por unanimidade uma moção que delega à executiva “poderes para indicar novas coligações e candidatos”, embora não haja coligações disponíveis. O presidente do MDB local, Adi Scapinello, é resignado ante a consolidação da coligação PP-PT. Na eleição de 2020, o MDB lançou chapa para disputar com o atual prefeito, mas não teve êxito eleitoral. A então candidata, Odete Araldi Bortolini, decidiu agora concorrer à Câmara.
– O partido resolveu deixar assim. Vamos fazer o quê? Vai dar mais de 50% dos votos em branco – projeta Scapinello.
A coligação entre PP e PT será mantida mais uma vez. O vice será um nome dos progressistas, Rogério Klin. Perguntado se o PP não tinha opção de candidato próprio, o prefeito Pasuch, que está encerrando o segundo mandato, explica:
– Tinha opção, mas teve um racha, e o partido optou por apoiar o candidato do PT.
Surpreende, mas não é novidade
Um petista conquistar a prefeitura de um município como Nova Roma do Sul, encravado em um reduto reconhecido nacionalmente como bolsonarista, é surpreendente, embora não seja novidade. Nova Roma é vizinha de Nova Pádua, o município mais bolsonarista do país, que teve 89% dos votos válidos para o então candidato Jair Bolsonaro na eleição de 2022. No pleito de 2018, foram 92%.
No entanto, a coligação PP-PL está no poder há 16 anos em Nova Roma. De 2009 a 2016, o prefeito era do PT e o vice, do PP. De 2017 até agora, o comandou inverteu-se.
Pré-candidato do PT prefere esperar prazo
O pré-candidato petista, Roberto Panazzolo, que é servidor público e secretário da Saúde, refere que ainda há prazo para registro de alguma candidatura retardatária no TRE – há delegação em ata no caso do MDB. Ele prefere aguardar o prazo, em 15/8:
– Estamos preparados, para haver concorrente ou não haver – afirma ele.
– Em uma eleição municipal em locais pequenos, a pessoa deixa de lado o partido – diz o prefeito Pasuch.
– Se for olhar, PP e PT, no cenário nacional, estão em lados opostos. Mas a gente, aqui, acaba tendo um olhar distante da questão partidária, primeiro pensa no município, sem levar a polarização – destaca Panazzolo.