Há algum tempo tem se falado que, sob o ponto de vista climático, estamos ingressando em um “novo normal”, isto é, fenômenos climáticos severos, como o que a Serra Gaúcha e o Estado estão vivenciando serão cada vez mais frequentes. E não é improvável o agravamento do cenário, pelo contrário. Para fins de comparação, no trágico temporal que assolou a região e carregou pontes em setembro do ano passado, choveu 178,8 milímetros em Caxias do Sul, em três dias. A medição da quarta-feira (1º/5) pela manhã, compilada pela Climatempo para o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), indicava uma precipitação de 327 milímetros em dois dias na cidade. Quer dizer, o volume de chuva duplicou em Caxias, e com um dia a menos na medição.
Em setembro, já foi uma devastação. Agora o temporal é mais intenso e mais amplo em abrangência e estragos, e surpreende governos, administrações, órgãos públicos e a sociedade, em geral ainda desarmados e despreparados para os efeitos que décadas consecutivas de maltratos ao meio ambiente prepararam.
Para quem não acredita em mudanças climáticas, a natureza grita. Na Serra, especificamente, foram e são terríveis e numerosos os deslizamentos de encostas. Esse é só um entre tantos exemplos. Há anos que exigem previsão, prevenção, engenharia e investimentos vultosos para a contenção de morros. Ano após ano, no entanto, a preparação não chega. Outro temporal, de junho do ano passado, fez deslizar uma encosta na BR-116, em Nova Petrópolis, e até hoje, quase um ano depois, a obra de engenharia para recuperar o trecho sem riscos ainda não foi capaz de oferecer a liberação da rodovia ao tráfego em condições normais.
Falta a decisão política dos governos de determinar os investimentos necessários, pois é um caminho sem volta, e aqui estamos em uma encruzilhada quanto à disponibilidade de gastos e investimentos públicos. Lembrando do início deste texto: é um novo normal que parece irreversível e mais frequente. E teremos, sociedade e administrações, de saber enfrentá-lo.