A primeira vez que entrei em uma redação de jornal, senti-me como que no cenário de uma incessante rajada de disparos que enchiam o ar: eram as teclas metálicas das Remingtons e Olivettis batendo em ritmo frenético, manejadas por uma dezena de redatores e jornalistas, contra as bobinas das máquinas de datilografar, deixando impressas no papel as palavras que compunham o jornalismo impresso. Remington e Olivetti eram as marcas das máquinas mais populares daquela época, segunda metade dos Anos 80.
Era assim o ambiente das redações. Quem o vivenciou não esquece, bem diferente do silencioso deslizar das teclas de computador, anos mais tarde. Não foi no Pioneiro essa iniciação das teclas, mas aqui prosseguiu essa convivência por mais alguns anos com a sonoridade metálica das máquinas de escrever. Cheguei ao Pioneiro em 31 de maio de 1989. No próximo 31 de maio, serão 35 anos. Significa que acompanhei por dentro – com um pequeno hiato de um ano e 5 meses – quase metade dessa trajetória que, neste sábado, completa 75 anos.
As transmissões dos jogos de futebol na tevê costumam mostrar o que chamam de “mapa de calor”: aquele lugar de um campo de futebol por onde mais circulam os jogadores fica “avermelhado”, indicando presença constante. Pois no mapa de calor de minha trajetória terrena, a região mais avermelhada é, sem nenhuma dúvida, a Jacob Luchesi, no bairro Santa Catarina, antiga sede do Pioneiro, de onde o jornal saiu em dezembro de 2018. Por ali transitei a maior parte de meu tempo em vida. O Pioneiro também permitiu-me que me tornasse íntimo de Caxias do Sul, da região e de sua gente, o que só tenho a agradecer.
Pois a sonoridade das teclas das máquinas de escrever tinha os dias contados. Ficou na memória. Logo chegou o tempo da informatização das redações, que ganharam computadores pessoais, os famosos PCs, uma época de muitas transformações, e as experimentei no Pioneiro. Por aqui, fiz jornalismo no tempo em que não havia Google, telefone celular básico, muito menos smartphone. E creiam, era possível. Essas foram novas ferramentas introduzidas, e elas são exatamente isso: ferramentas de trabalho. É o que muda e irá continuar mudando, colocando como exigência adaptar-se, atualizar-se e adaptar processos.
Na essência, o jornalismo segue sendo o mesmo: contar histórias com paixão, responsabilidade e respeito, estar ao lado da comunidade, guiar-se pelo interesse dela, entregar o melhor produto, caprichado, cuidar dos detalhes.
O Pioneiro não chega aos 75 anos por acaso. Surge na história, representando uma linha editorial, e história não se apaga. E ampliou-se ao longo dos anos, no rumo da pluralidade, cuidando de ouvir todas as vozes, bê-á-bá do jornalismo e essência da profissão. Carrega desde o início o compromisso e o talento dos profissionais que o construíram. Permitam-me esta homenagem neste 4 de novembro de 2023. Para mim, fazer parte dos 75 anos do Pioneiro, privilégio que tive ao lado de centenas de colegas queridos com quem aprendi tanta coisa, é uma honra e uma emoção.