Os tempos são terríveis. Setembro, particularmente, tem sido uma avalanche de más notícias. Claro, existem as boas também, que cumprem a meritória função do respiro, do alívio à dureza dos dias, de entregar-nos motivos para seguir acreditando na vida, razão essencial para prosseguirmos – o que, talvez, seja uma inutilidade, mas prosseguir é fazer a nossa parte, uma responsabilidade vital. Foi um mês de perdas terríveis – e de episódios acachapantes. Nesse quesito, os acadêmicos de Medicina de uma universidade paulista ficam com a medalha de lata enferrujada. São insuperáveis – talvez por pouco tempo, que nosso estoque do grotesco, do mau gosto e do baixo nível parece ser inesgotável. A que profundezas somos capazes de descer? Ainda veremos.
Pois bem, os acadêmicos de Medicina da gloriosa Unisa (a Universidade Santo Amaro) – a essa altura o Brasil já sabe e já viu! – apareceram seminus em vídeo, enquanto se masturbam ou simulam masturbação diante de alunas acadêmicas durante uma competição, jogos de integração entre calouros e veteranos. Que mentes brilhantes! Em alguma dessas mentes explodiu a ideia, que provavelmente já venha de outros anos. Como surge, como prospera e como ganha forma é a reflexão que nos cabe. Primeiro, ou é feito para chocar, o que talvez seja superestimar os protagonistas a ponto de alinhavar um raciocínio simbólico. Afinal, existem contraculturas por aí, mas, por óbvio, não se trata disso. Ou segundo, então evidencia uma total falta de noção da consequência do ato, o que é o mais provável. Falta de noção essa que tem tudo para estar relacionada à indiferença ou ao analfabetismo quando o assunto é cidadania, considerando-se cidadania a preocupação com a construção de um ambiente civilizado de convivência. Deficiência de educação para cidadania certamente é uma pista. Muitos dos nossos valorosos calouros da Unisa provavelmente não sabem o que isso significa ou não são capazes de juntar “lé com cré”. Uma opção livre pelo grotesco, de novo, é superestimar “esses guerreiros”.
São “tempos estranhos”, costumava dizer o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello. Talvez seja imprecisa a configuração da síntese do ex-ministro, injusta com a estranheza. Estranho é uma qualificação aparentemente neutra, sem juízo de valor. Pode ser para o bem e para o mal. Identificar uma estranheza é não reconhecer a experiência – no caso, jovens se masturbando em público diante de colegas. São muito pior do que estranhos os tempos atuais. São tempos desconcertantes, desanimadores. Tempos sombrios, apesar da esperança que insiste em vagar por aí.