Brasil, mostra tua cara! Ah, o verso de Cazuza, que nos faz uma falta sem tamanho! Semana passada, ficou evidenciada uma resposta aos apelos de Cazuza formulados lá nos inigualáveis Anos 80. Era 1988. A resposta surgiu nas calçadas ao redor dos bares do Rio de Janeiro.
Os apelos de Cazuza estavam mais voltados ao lado negocial do país, digamos assim. Seus sócios. “Qual é o teu negócio”, Brasil? A resposta da semana passada veio na esfera do comportamento. O que se viu nos bares do Rio, reabertos por obra e graça do prefeito Marcelo Crivella, que liberou geral, é a cara do Brasil. Cara de parte do Brasil, pode se contrapor. Estará correto, mas precisará se reconhecer que essa é a cara predominante do Brasil. A face do desrespeito.
O que se viu nos bares reabertos foi um show de horrores em época de números ascendentes da pandemia, de milhares de mortes. Um show de desrespeito. Um show de desprezo pelos outros, pela vida. Um show de arrogância. Um show de falta de noção coletiva. Um show de desinteligência, para empregar uma palavra menos contundente. Um show de desprezo à cidadania, que cabe em tanto discurso por aí... Gente que foi para lá “como se não houvesse amanhã”, aglomerados até a raiz do cabelo e sem máscaras, sem nenhum pudor pela contaminação alheia, de trabalhadores dos bares, por exemplo. Gente que tem representantes em todos os cantos do país, por aqui também. Quando não se usa máscara, quando se vai rumo a aglomerações, quando se facilitam aglomerações, quando se colocam atrativos para aglomerações, o que se configura é o desrespeito aos outros, pois está se favorecendo o contágio. Como se fosse necessário lembrar disso!
Assim se comporta historicamente uma parcela dos brasileiros, que tem sido tristemente predominante, preponderante nos rumos, no ambiente, na cultura aqui entendida como ambiente cultural, o “cadinho” onde proliferam ações e comportamentos. Entre esse pessoal que foi se esparramar nas calçadas ao redor dos bares cariocas, certamente existem os críticos da corrupção, dos políticos, dos brasileiros – os outros, claro –, do país onde “nada dá certo”.
Essa é a cara do Brasil, um flagrante à perfeição nas calçadas em torno dos bares do Rio. É a cara do atraso, um atraso de décadas e séculos, pela falta de valores e de uma educação que promova a reflexão e o exercício de valores, que impede o país de aprender a conviver com os outros e os diferentes e de crescer. Assim vamos.
“Grande pátria desimportante / Em nenhum instante eu vou te trair...”
Nesta terça-feira, fez 30 anos que Cazuza nos deixou. Passou em silêncio. Que falta faz.