Esta primeira semana pós-eleições tem sido pródiga, país afora e a Serra Gaúcha não faltaria, em exemplos que demonstram a necessidade urgente de se reconstruir uma cultura de boa convivência e aceitação dos outros com todas as suas particularidades, entre elas, a posição política de cada um, cujas diferenças não deveriam inviabilizar a civilidade e o convívio. Posição política não tira pedaço de ninguém, ou não deveria. É um tema, a construção sólida de um espaço coletivo de convivência, aceitação e respeito, que está se impondo como prioridade nacional, a partir de episódios estarrecedores desde a época de campanha, e agora no pós-eleição. Estamos regredindo a tempos primitivos, tudo atestado em vídeos para comprovar.
Na Serra, temos listas de boicote a empresas. E a comunidade de São Marcos inviabilizou palestra do escritor e poeta Bráulio Lessa. Tem vídeo também. Ele teria muito a compartilhar e iluminar caminhos, mas restou inviabilizado por conta de sua posição política. De novo, posição política não tira pedaço de ninguém. A tese antiga, de mais de meio século, de que “comunismo come criancinha”, é do tempo da chamada Guerra Fria, nos Anos 60, e se imaginava devidamente catalogada como parte de um tempo histórico que ficou no passado, mas foi agora resgatada e disseminada à luz da internet e das redes sociais. Até de intervenção militar está se falando.
Vamos recapitular: quem pensa diferente não precisa ser inimigo, adversário de guerra. Haverá certamente um caminho no tutorial da boa convivência que leva até esse resultado amistoso e civilizado. Eis o ponto, precisa ser civilizado e respeitoso. Quem pensa diferente, é apenas um jeito diferente de pensar, de organizar o raciocínio e a reflexão, decorrente de caminhos individuais percorridos, outras vivências, outros momentos, outros contextos, outras leituras, outros filmes, outras inclinações pessoais, outros amigos. Em princípio, não há má intenção. Tudo isso molda, consolida e dá pesos diferentes a valores, produz um olhar diferente, um sentimento diferente, afinal, cada pessoa tem seu ponto de observação, e isso tudo é assim mesmo, assim é a cultura. Pode, sim, haver casos de pensamentos e posturas tortos e inconciliáveis sob o ponto de vista teórico e de compreensão da realidade, mas não significa inviabilidade da convivência. Valores que produzem afastamento entre pessoas certamente devem estar submetidos a outros valores que produzem aproximação verdadeira.
O combate à fome é prioridade nacional, sim, pois a fome não pode esperar. A construção de uma cultura de aceitação e respeito é de outro perfil, mas também precisa ser reconhecida como prioridade. Exige mutirão de governos, institucional, da sociedade civil, com políticas de educação transversais, que alcancem todas as áreas e espaços. Do contrário, vamos prosseguir no atual cenário ensandecido que estamos testemunhando. E não chegaremos a lugar nenhum. Aceitação e respeito precisam estar na base. E cada um com sua posição política.