A evolução da tecnologia no que se refere às tevês é algo louvável, evidenciado pelas sucessivas Copas. Meu pai preveniu-se para a Copa de 70, a primeira transmitida ao vivo, quando se antecipou ao "boom" televisivo no final dos Anos 60. Até aquele momento, a televisão não era, definitivamente, um artigo popular. Comprou um televisor Semp _ que ainda não era Toshiba _ de razoáveis dimensões. A Semp só foi ser Toshiba anos mais tarde. Praticamente não se falava em polegadas. Tratava-se, figuradamente, de uma "caixa de abelhas" com um emaranhado de válvulas no interior. Sem controle remoto, por óbvio. Havia 12 canais, do 2 ao 13, selecionados por meio de um seletor manual. Claro, só um deles "pegava", como se dizia, isto é, o sinal chegava até os aparelhos com razoável clareza e definição. No caso, o sinal da Rede Tupi, que recebia os jogos da Copa e tinha a TV Piratini como retransmissora no Rio Grande do Sul.
A Copa de 74, na Alemanha, já foi a primeira da tevê em cores. E, a partir daí, a tecnologia só avançou até chegar às telonas e smartphones de hoje em dia, com sinais em HD e por aí. No meio do caminho, como na Copa de 82, na época da universidade, com as restrições orçamentárias típicas da época de universitário, tive de recorrer a tevês portáteis, de novo em preto e branco, mas deram conta do recado, direitinho. Ainda não havia Galvão Bueno, que estreou em alguns jogos da Copa de 86. A Copa de 82, de dolorida lembrança, ainda foi com Luciano do Valle, que narrou todos os três gols de Paolo Rossi.
A respeito da Copa de 74, tem história pra contar. Era a primeira da tevê em cores, mas, como qualquer novo modelo de smartphone de última geração, definitivamente, aquilo não era artigo para qualquer bolso, era um sonho de consumo acalentado e distante. Um privilégio para poucos. Lá em casa, tevê em cores só foi possível na Copa de 78. Porém... Houve um porém salvador. Um colega de minha mãe, de nome Vicente, da Secretaria da Fazenda do Estado, fora transferido para Alegrete com a esposa Maria meses antes da Copa. O casal vinha de Nova Prata, aliás, e mudou-se para a casa ao lado da nossa. Abençoadamente, com uma tevê em cores no caminhão da mudança.
Aquilo era uma grande notícia. Claro que tudo se resolveu. A Copa em cores estava garantida, um desfrute para um adolescente de 13 anos fascinado pela novidade e que não tinha muita perspectiva de acesso a ela. A imagem ainda era um tanto borrada, amarelada, mas a Copa que imortalizou a "Laranja Mecânica", a Seleção da Holanda _ aliás, uma cor bem apropriada para a estreia da tevê em cores _, pôde ser testemunhada com esse requinte inédito da tecnologia. Acabei por assistir à eliminação da Seleção para a Holanda, mas vi em cores, graças à permissão de vizinhos camaradas, que nos franqueavam a casa em dias de jogos do Brasil.
A primeira Copa em cores a gente nunca esquece.
* Desde sábado (19/11), e durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Qatar, são 14 Copas.