Os evangélicos são um segmento estigmatizado. Assim como se verifica com as chamadas “conversões espirituais”, uma temática familiar a esse universo, esse público é alvo também para a colheita de votos em época de eleição. É comum uma visão estreita e reducionista desse exército crescente de fiéis. Segundo pesquisa Datafolha feita este ano, 49% dos entrevistados se dizem católicos e 26%, evangélicos. Outros 14% consideram-se sem religião. São os números mais recentes para dimensionar esse universo.
Rotulados simplesmente como “evangélicos”, como se houvesse um bloco monolítico e todos vestissem o mesmo figurino, eles compõem um cenário diversificado e complexo. Há uma infinidade de denominações evangélicas. Resumidamente, existem as igrejas evangélicas históricas – como a Anglicana, as Luteranas, a Metodista. Como o nome já diz, têm uma história mais extensa para contar. Em geral, são mais sólidas como instituição e abertas ao entendimento da complexidade dos temas da modernidade, vencendo as armadilhas de uma moral mais conservadora. Mas têm menos fiéis. Há as chamadas evangélicas pentecostais, em que o louvor e a devoção são mais eloquentes, e isso arrebata fiéis. Por exercitarem mais essa ênfase, refletem menos em comunidade sobre a vida real em seus demais aspectos, como o político e o social, ou até evitam essa reflexão. Há igrejas que se tornaram grandes, com estrutura empresarial e de comunicação, com pastores e bispos conservadores que adquirem projeção nacional e forte peso político. E há as evangélicas dissidentes, que surgem a partir da inaptidão de alguma liderança para lidar com as diferenças dentro do espaço político de uma igreja, então fundam outra, em geral com nome alternativo, com menos preocupação com a institucionalidade e uma visão de mundo limitada. Essas, em geral, se acomodam em garagens ou pavilhões e se esparramam para as periferias.
Em todas elas, haverá diferenças internas, inerentes a qualquer grupo de pessoas. Em maior grau nas pentecostais, ou em menor grau, haverá a ascendência de líderes religiosos, que podem até arrastar multidões a partir do ponto de vista que defendem, em geral conservador, sob o manto do discurso religioso, o que fazem com um necessário poder de sedução. Nesse caldo religioso complexo, entra a eleição, a maior ou menor veemência dos pastores e fiéis, a maior ou menor adesão à mensagem, a maior ou menor abertura aos temas da sociedade.
Caberia aos fiéis, todos eles, em especial no momento eleitoral, exercitar o que lhes é dado de graça pela criação, a capacidade de discernimento, de fazer a própria reflexão, pessoal e intransferível, avaliando os subsídios e informações que recebem. Exercitar a serenidade e uma avaliação mais tranquila e atenta. E exercitar a convivência boa e respeitosa com todos, inclusive com quem pensa diferente, pois são preceitos bíblicos caros. Votar bem é preocupar-se em melhorar a vida de todos, preocupação que – imagina-se – deve ser inerente a todas as religiões.