Além do vereador Olmir Cadore e do prefeito Adiló Didomenico, ambos do PSDB, o ex-deputado federal Mauro Pereira (MDB) é outra liderança política que deixa de lado a candidata Simone Tebet para a Presidência e vai com o presidente Jair Bolsonaro. O apoio de Mauro ao presidente já era esperado. Com o agravante de que Tebet é do mesmo partido de Mauro. Os tucanos têm a candidata a vice-presidente da chapa, a sendadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).
– Vou de Bolsonaro. O presidente Bolsonaro sempre deu um tratamento de amigo e abriu a porta dos ministérios para mim, e confio muito no futuro com ele sendo reconduzido ao governo. O MDB é democrático, em diversos Estados estão apoiando candidatos diferentes. Nós temos que respeitar a opinião dos filiados, e eles querem Bolsonaro – justificou Mauro.
É um momento em que começam a surgir apoios cruzados, isto é, a liderança de um partido que também tem candidato ou integra alguma chapa apoiando candidato de outro partido. Não importam quais sejam os partidos protagonistas deste apoio cruzado, é uma contradição difícil de justificar, que fragiliza as siglas e, por extensão, a democracia.
No caso de Mauro e Cadore, por exemplo, ambos só são candidatos à Câmara Federal porque seus partidos abrigaram suas candidaturas. E certamente há muitos outros postulantes na mesma situação. Ao mesmo tempo, como os demais candidatos – exceto os do Novo –, eles recebem recursos do Fundo Eleitoral captados pelo partido do qual fazem parte. Mas, na hora do voto, votam contra os respectivos partidos! É desconcertante.
É preciso um malabarismo retórico para tentar sustentar a contradição, mas quase sempre ele não para em pé. E tanto faz se o candidato que vier a ser apoiado é do partido A ou B. Por exemplo, há lideranças emedebistas, especialmente na Região Nordeste, que apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O argumento para o apoio externo é político, alguma afinidade de ideias, proximidade ou interesse, mas, na prática, é uma ingratidão – o que não deixa de ser revelador.
Onde se sentir mais à vontade
Há casos em que há dissidência interna explícita em um partido, gerando uma crise partidária e, nessa circunstância, apoios externos até são compreensíveis. Ou alguma razão excepcional de foro íntimo. A lógica política usual, porém, é o respeito à deliberação interna.
Eventual discordância é legítima e democrática, mas permanecer na sigla e desrespeitar a decisão interna não faz bem a um partido. Em caso de desconforto, há a alternativa de escolher a legenda onde se sente mais à vontade.