O espaço chamado pequeno expediente de uma sessão da Câmara, que é destinado a manifestações finais, na reta final da sessão, reservou nesta quarta-feira um episódio de “fogo amigo”. O ex-líder do governo, na legislatura passada, vereador Olmir Cadore (PSDB), do partido do governo, pediu a saída dos diretores da Secretaria Municipal de Saúde Dino de Lorenzi (diretor executivo) e Vanusa Prestes Perini (diretora de Atenção Básica).
– Eu tenho visitado as UBS (...) Hoje, claramente, eu venho manifestar de público o meu desejo e a sugestão que dei ao prefeito, que duas pessoas que, juntamente com a secretária da Saúde (Daniele Meneguzzi), comandam a saúde em Caxias do Sul, o doutor Dino e a doutora Vanusa, sejam mudados, sejam modificados. Tenho sentido na convivência com os profissionais um entrave, uma dificuldade de relacionamento, tenho (sido) recebido com as pedras na mão. (...) Esses profissionais, para o bom andamento da saúde, eles têm de ser modificados – disse Cadore.
A saúde foi esmiuçada, o tema dominante da sessão, a partir de um cenário de demora reconhecida para o encaminhamento de pacientes para leitos hospitalares. Na tarde de terça-feira, eram 82 pessoas esperando leitos, segundo dados da secretaria.
As críticas foram em diversas direções. Outros dois vereadores, Juliano Valim (PSD) e Mauricio Marcon (Podemos), pediram a troca de comando da Secretaria da Saúde. Marcon, especialmente, critica a falta de respostas efetivas da secretaria.
– Soluções tem, prefeito Adiló, é só ocorrer mudança. Quando um time não está bem, tira-se o jogador e tenta achar uma solução. Então muda-se o secretário ou a secretária se não está dando certo – disse Valim.
– Eu não sei mais o que falar. Tu fala com a secretária, quando te responde é: “Não tem previsão.” (...) Eu sei que ninguém gosta de cortar na carne. Ninguém gosta de cortar seu secretário, seus diretores. Mas às vezes é necessário. Dia após dia, um vereador, dois ou três sobem nessa tribuna para falar de problemas na saúde – afirmou Marcon.
"Resolver problema e politicagem"
O vereador Velocino Uez (PTB), líder do governo na Câmara, reagiu ao bombardeio de críticas.
– No outro final de semana, a secretária (Daniele Meneguzzi, da Saúde) me disse: “Se tivesse leito para comprar, eu compraria hoje independente do aval do prefeito Adiló.” Se tiver algum vereador que tiver a solução mágica, por favor, se coloque à disposição. Onde vão comprar leitos, se não têm? Eu não sei mais aqui dentro (na Câmara) o que é (intenção de) resolver problema e o que é politicagem, tirar proveito de uma situação difícil que é de saúde da vida das pessoas – desabafou Uez.
A coluna pediu manifestação da Secretaria Municipal de Saúde acerca das declarações de vereadores na sessão de ontem. A pasta emitiu extensa nota, detalhada e sintetizada a seguir:
"Secretaria aberta aos vereadores"
n "A Secretaria da Saúde (SMS) executa um trabalho duro, sério e responsável. Foi assim que garantiu, em abril, a manutenção de 34 leitos, abertos para atender pacientes com covid-19 e que, com o fim da habilitação pelo Ministério da Saúde, seriam fechados. Desde então o município paga, com recursos próprios, R$ 900 mil ao mês. Caxias do Sul não tinha novos leitos SUS desde 2015."
n "Mesmo em pandemia, foram três mutirões de consultas especializadas e três da Atenção Primária, que infelizmente tiveram altas taxas de faltas."
n "Atualmente, Caxias recebe teto financeiro para custeio da assistência em saúde no valor anual de R$ 127.724.473,33 e investe 26,96% de recursos próprios para complementar as despesas com saúde."
n "A respeito da espera para internação, a SMS lembra que a lotação hospitalar se repete nas redes SUS e privada de todo o Estado e que não poupa esforços para comprar leitos de instituições privadas ou em outros municípios."
n "O que raramente é lembrado é que Caxias do Sul é referência para 1,2 milhão de habitantes da Macroserra, nos atendimentos em alta complexidade" em diversas especialidades enumeradas na nota.
n "A SMS está e sempre esteve aberta ao diálogo com todos os vereadores, inclusive caso tenham interesse em conhecer o trabalho e empenho da Central de Regulação de Leitos, que opera 24 horas por dia."
A nota cita ainda uma série de investimentos em clínicas de reabilitação, farmácias regionais e ambulatório, projeto-piloto para agendamento de consultas online, realização de concurso para médicos e ampliação de convênio com o Círculo para aumentar consultas e cirurgias eletivas, bem como enumera as ações desenvolvida no combate e controle à pandemia.