Há, basicamente, duas formas de fazer a travessia até termos a pandemia sob relativo controle, com reversão do cenário atual de colapso da rede hospitalar, sem leitos disponíveis para qualquer emergência. Uma das formas é viver normalmente à espera da vacina, como fazemos aqui entre nós, como se não houvesse pandemia. Vida normal, muita gente nas ruas, protestos diários por mais liberações. O preço, porém, é alto demais, contabilizado em vidas perdidas, mas isso parece não fazer muita diferença.
A outra forma é determinar restrições mais severas à circulação de pessoas, estipulando um período para isso, duas, três semanas. Os números de novos casos e de ocupação hospitalar irão cair, pois é da lógica da pandemia: menos gente nas ruas, menos contágio, menos vidas perdidas, como comprovam exemplos práticos pelo país. Lógica elementar. Por esse caminho, se poderia obter um cenário administrável nos hospitais e um pouco mais de estabilidade para a atividade econômica. Enfim, as cidades fazem suas escolhas e assumem as consequências. “Sua alma, sua palma”, já dizia Emília, a Marquesa de Rabicó. A tragédia são as vidas perdidas antes da hora.
Em meio a tudo isso, o BBB. Divirto-me reservadamente vendo pessoas que fogem do BBB e fazem questão de alardear esse distanciamento como um salvo conduto, um atestado de que estão imunes à mediocridade. Esse lado provocativo do BBB me agrada. Pode fomentar debates ou oferecer surpresas, como a paraibana Juliette, que aos poucos vem sendo apresentada ao país. Para quem se protege do BBB, fica a dica: vale conferir Juliette, uma nordestina arretada e doce, bem-humorada e de marcante sotaque regional.
Pois Juliette tornou-se praticamente uma unanimidade nacional. Está longe de ser perfeita, não deve ser simples conviver com ela, tem suas dificuldades, mas também seus méritos. No último paredão, atraiu pouco mais de 1% dos votos para sair, o que sugere que conta com a simpatia de bolsonaristas e “comunistas”, petistas e antipetistas, garantistas e lavajatistas, Gilmar Mendes e Kássio Nunes, famosos e anônimos. Artistas e jogadores de futebol se engajam, pessoas comuns a defendem. Nesta quadra da existência nacional, convenhamos, é uma façanha e sugere um exame sobre o que há de especial nessa paraibana. Juliette tem obstinada vocação por conversar. Advogada que é, deu pistas de uma boa compreensão da realidade quando discorreu a seus brothers sobre a presença e a não presença do Estado em regiões mais pobres e suas consequências. Chama às falas, olho no olho, inclusive com quem tem diferenças. Isso nos faz muita falta.
Juliette é um bom parâmetro para nossas lideranças políticas. Quem sabe até conseguisse promover um convencimento sobre o caminho mais lógico para enfrentar este dramático momento da pandemia. Quem sabe. Estamos precisando muito. Questão de vida ou morte.